Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Míssil

Enquanto figuras carimbadas do Planalto correm para aprovar a lei que desarma a população, temerosas de que gente indignada parta para a luta armada, que eles tanto defendiam, o povo entrega seus ‘revorvinhos’. Mas os bandidos já aparecem de mísseis, prontos para serem lançados contra as penitenciárias, jamais contra o Alvorada.

Mísseis!

O governo que fique esperto, porque ainda há quem teve infância e sabe manejar muito bem estilingue que arremessa bolinha de gude, mamona, pedra e pedregulho. (As bolinhas de gude dos camelôs do Mercadão eram tiro e queda: um cruzeiro, cinco bolinhas). E a espingardinha de chumbo, da Caça&Pesca, ali na César Bierrenbach? O zelador da fábrica de elástico do Dr. Sylvino de Godoy, ali na Zé Paulino, tinha uma que dava tiro de sal na bunda dos moleques que pulavam o muro para pegar parafina. Como ardia!  Zarabatana de boca para acertar flecha de canudinho de papel em cacho de marimbondo. Corra! Estilinguinho de elástico de amarar dinheiro para atirar grão de feijão atrás da orelha – puts, como dói! Mas nada imobiliza mais do que puxar um dedo do “adversário” para trás. Ele suplica.

A molecada, digamos, ‘barra pesada’, que vivia de bicos no mesmo Mercadão, tinha brinquedos mais perigosos: soco inglês e rebenque. E os marmanjos daquelas paragens, peixeira, punhal (um paranóico foi chamado de traidor e se suicidou com uma punhalada nas costas…), navalha, espeto de churrasco (por briga de troco, um garçom varou o cliente num restaurante da Álvares Machado)… Fio de ferro de passar roupa era o preferido dos maridos traídos. E o mesmo ferro, quente, era a arma mais perigosa das esposas traídas. Pau de maçarão era a das desconfiadas – racha mas não mata. Elas usam também faca de cozinha, água e óleo ferventes. Portanto, fique longe da mulher enquanto ela passa o café, frita ovo ou corta bifes.

Na dúvida, guarde a espingarda e entregue a mulher na Polícia Federal. Não sei se eles pagam… Aproveite e dê o rotevailer e o pitebul.

Grandes guerreiros, lembra o Roberto Zammataro, usavam armas estratégicas dignas de heróis ou patifes: “Napoleão Bonaparte, durante suas batalhas, sempre usava uma camisa vermelha. Para ele, era importante porque, se fosse ferido, com sua camisa vermelha, não se notaria seu sangue. Seus soldados não se preocupariam; também não deixariam de lutar. Prova de honra e valor. Duzentos anos mais tarde… é verdade que o Lulla usa sempre calças marrons?

Mas a arte popular é a melhor arma para acabar com governantes que nos acossam. A história do Brasil não nos deixa esquecer. Quer ouvir, digo, ler? Então veja este repertório do jornalista Ancelmo Góes:

Lupicínio Rodrigues, ídolo do Rouberto Jefferson — “Esses moços, pobres moços / Ah, se soubessem o que eu sei”…

Juca Chaves — “O filho dela / é político ou tarado / Caixinha, obrigado!”…

Cazuza, George Israel e Nilo Romero — “Brasil, mostra a tua cara / Quero ver quem paga / Pra gente ficar assim”…

Chico Buarque e Fracis Hime — “Dormia / a nossa pátria mãe tão distraída / sem perceber que era subtraída / em tenebrosas transações”…

Gilberto Gil — “O sonho acabou / Foi pesado o sono pra quem não sonhou”…

Ary do Cavaco e Bebeto di São João — “Se gritar ‘pega ladrão!’ / Não fica um, meu irmão”…

Herbert Vianna — “Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou / São trezentos picaretas com anel de doutor”…

Raul Seixas e Cláudio Roberto “A solução pro nosso povo eu vou dar/ Negócio bom assim ninguém nunca viu / Tá tudo pronto aqui é só vir pegar / A solução é alugar o Brasil!”…

Juca Chaves — “Brasil já vai à guerra, comprou porta-aviões, 82 milhões, mas que ladrões!”

Ângela Maria revisitada – “Lulla, oh Lulla! / Querem te passar pra trás / Lulla, oh Lulla! Querem te roubar a paz”

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