Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Meu Brasil japonês

Os outros que me perdoem, mas os japoneses são fundamentais. Meu carinho por essa colônia é maior do que o que dedico a muitos brasileiros até. Não sei se é sorte, mas jamais me decepcionei com eles. Ao contrário, tudo o que, como brasileiro, posso dizer a essa gente de olhinhos puxados, delicada, inteligente e trabalhadora, é ‘muito obrigado”. Não sei o que seria de nós, se eles não tivessem feito do Brasil sua segunda pátria, sem interesses escusos, imperialismo e prepotência.

Obrigado pelo exemplo nos estudos e na fé. Pela descoberta do nosso cerrado, posto a produzir alimentos como a terra roxa. Pela generosidade de receber de braços abertos seus descendentes aqui nascidos, mas, como nós, sem esperança de prosperidade – e permitir que o ganho do suor dos seus rostos ajude os que aqui ficaram, com US$ 3 bilhões por ano.

Obrigado pelo saudável desafio musical do karaokê, pela poesia do hai-kai, pela paciência e pela sabedoria de se respeitar os mais velhos acima de todos os outros. Pela arte, pela soja, pela uva rubi e pelo sashimi — e por nos ensinar a importância de todas as frutas, verduras, legumes e ovos para a nossa saúde.

Obrigado por aturar nossas brincadeiras, desde moleques. E por nos mostrar tantas outras, muito mais sadias e instrutivas do que as nossas. Reconheço. Obrigado por serem tão parecidos por fora e tão ricos por dentro. Obrigado por nos darem a Neusinha, primeira namorada do nosso maior ídolo (será que ela tem algo a ver com a magia do Pelé?).

Talvez, até sem sair de casa, cada brasileiro sente um toque japonês no seu dia-a-dia. Pode ser o toque relaxante, das agulhas da acupuntura, ou laxante, das folhas do chá verde. O toque do taco na bola de beisebol. O toque da honorável família imperial, pelo aroma de sua flor-símbolo, o crisântemo. O toque purificador do banho de ofurô e iluminado das luminárias de papel.

O curioso toque do nosso “jeitinho”, no charme das meninas que preferem os palitinhos para prender os cabelos, e do conforto das havaianas, que aqui chegaram feitas de palha e chamadas “zori”.

O toque da paz do budismo – na alma.

Pregado no poste: “Obrigado por 100 anos de companhia”

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