Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Mestre Amade

Dias atrás, conversamos aqui sobre um homem especial, muito especial. O professor de Matemática João Batista Amade. Especial, porque cumpriu entre nós a rara missão de ensinar. Ensinar é o estágio máximo da generosidade a que a um ser humano pode alcançar – quem ensina abre mão de todo o egoísmo. Ninguém tem maior desprendimento e riqueza de espírito do que o professor. Só ele é capaz de doar a um semelhante todo o patrimônio de conhecimento que conquista e faz isso com alegria. É sua necessidade vital, razão de sua própria existência. Por isso, só os professores recebem esse dom de Deus.

Não importa se quem recebe o ensinamento irá empregá-lo para o bem ou para o mal, se é rico, pobre ou remediado, bonito ou feio. Quando ensina, o professor é mais cego do que a Justiça. Só enxerga e deseja o futuro promissor para seus alunos. Ele é a primeira pessoa na vida a quem os pais confiam seus próprios filhos, certos de que, melhor do que ninguém, é ele quem abrirá o caminho da jornada de cada um ao longo da história.

Dissemos aquela vez, que o nosso mestre era capaz de desempenhar um papel sublime nas escolas em que lecionou: ensinar certo uma ciência exata. Como alguém pode ensinar certo o que já é exato? O professor Amade, sim. Ele era o domador da fera das matérias. Com ele na classe, aquela “leoa” que devorava nossas notas, nossas médias finais, virava uma “gatinha” dócil, até querida entre os estudantes.

E como era querido! Ao longo de sua carreira, foi escolhido por 23 turmas para ser o paraninfo da juventude que formou e ajudou a preparar para a vida. Essa escolha é sempre um gesto de homenagem sincera, de gratidão, de quem não sabe mais o que fazer para agradecer e reconhecer tanta dedicação. Um estudante dificilmente se esquece de seus professores (pode até se esquecer da primeira namorada, do primeiro namorado), mas um professor jamais se esquece de seus alunos, não importam a dimensão do rebanho nem o tempo desde a última aula.

Toda vez que converso com ex-colegas de escola, o nome do professor Amade é lembrado. Seu jeito de ser, sua conduta, a seriedade com que tratava a missão de ensinar e o empenho em saber se a meninada havia, mesmo, aprendido cada lição marcavam seu magistério. Ele morava perto de minha casa. Era comum vê-lo passar acompanhado da família.

E agora, uma imagem me assalta a memória: era impossível ver o professor Amade andando sozinho pela cidade. É mesmo! Ele sempre estava cercado por um grupo grande alunos. Sabe por quê? O professor não é importante porque sabe tudo; ele é importante porque sabe ensinar. E essa diferença, amigos, só Deus sabe explicar. E explica por meio dessas criaturas que pôs na terra, como mestre Amade.

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