Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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“Mesquinha aldeia”

“Escrevendo em 1897, o jornalista Henrique de Barcelos também recorda a cidade no que ela tinha de colonial em 1867. Começa por chamá-la de ‘mesquinha aldeia’, pois se apresentava sem calçamento, com as ruas cheias de buracos e atoleiros e um casario que se limitava ao centro histórico, sem contar ainda com bairros como o Botafogo e a Guanabara e sequer avançando em direção às partes mais altas como as atuais avenidas Andrade Neves e Júlio Mesquita. Quanto à sociedade, um ensino deficiente, comunicações precárias com Jundiaí e São Paulo e os jornais da Corte chegando com atraso de cinco dias(Só?!) e noticiário do exterior, de dois em dois meses.”

Nossa! Mas esse livro “A Cidade: os cantos e os antros”, do mestre José Roberto do Amaral Lapa, é uma obra de arte, obrigatória na cabeceira de todos os campineiros. Ainda estou no primeiro capítulo, que já li três vezes. Depois de 1867, quando era uma “mesquinha aldeia”, na visão desse tal de Barcelos, nossa terra reagiu e, em trinta anos, pela pesquisa do professor Lapa, vê-se que ela viveu num ritmo alucinante de acontecimentos que a puseram no mapa do mundo. Nem de 1967 a 1997, Campinas foi palco de tantas mudanças e tão revolucionárias. Deve ter sido um delírio morar aqui naquele período, interrompido pela febre amarela. Que pena!

Ainda em 1867, os irmãos Bierrenbach instalavam a primeira máquina “regida pelo vapor” em sua fábrica de chapéus e começava o serviço diário dos Correios, “conduzido em carros, entre esta cidade e a capital da província”. Cinco anos depois, no dia 11 de agosto, chegavam os trens da Companhia Paulista e era testada a iluminação a gás nas ruas, para ser implantada em 1875.

Em 1873, a maçonaria inaugurava o colégio “Culto à Ciência”. Dez anos antes, abria-se a “Escola Alemã”, o Colégio Rio Branco de hoje, talvez a mais antiga escola particular de São Paulo em atividade. E a cidade já cuidava de disciplinar seu trânsito: “Todas as séges, carros omnibus, gôndolas, carroças e outros veículos de condução que tiverem de subir à Estação da Estrada de Ferro da Companhia Paulista demandarão a rua de São José (Treze de maio), a partir do Largo da Matriz Nova (Catedral), bem como descerão pela rua da Constituição (atual Costa Aguiar), até o mesmo largo. Os infratores pagarão a multa de 4$000.”

Olha só a rapidez dos fatos: em 1875, partia o primeiro trem da Companhia Mojiana, para Moji-Mirim, e um ano depois, inauguravam a Santa Casa.

O 1878 foi inesquecível. Testaram o primeiro bonde elétrico, abriram um rinque de patinação e… tchan, tchan, tchan!: o telefone era exibido no Rink Campineiro. Uma pessoa sentada no Rink falou com outra, que estava na loja Monde Elegant. Isso, apenas dois anos depois de d. Pedro II ter exclamado para o inventor Alexander Graham Bell: “Meu Deus! Isto fala!”. Essa foi a primeira conversa telefônica da história, na exposição do centenário da independência dos Estados Unidos, em Filadelfia. Tudo ao som do Hino do Centenário, composto e regido por outro campineiro que brilhava na Europa naquele tempo: Antônio Carlos Gomes.

Nosso mestre Amaral Lapa conta que Campinas se tornou a segunda cidade do mundo a ter telefones; a primeira foi Londres. Em 1884, já existia até a Companhia Telefônica Campineira, “com 56 felizes assinantes”. Não era uma maravilha ser campineiro?

Acho que se d. Pedro II vivesse nos dias de hoje e pegasse o telefone para falar com a princesa Isabel, teria exclamado: “Mas meu Deus! Isto não fala!”

Pregado no poste: “Amanhã tem mais”

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