Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Mãos de mãe

Dona Zilda Rubinski nasceu para ser mãe. E professora. Foi para seus milhares de alunos a mestra querida, mais lembrada, a quem dedicamos sempre carinho e ternura especiais. Somos felizes por isso; porém mais felizes são a Fanny, a Neide, a Lílian, a Sonia e o Ismael, que tiveram a ventura de conviver com ela desde o berço, ao contrário de nós, que só ganhamos sua atenção a partir da adolescência.

Fanny, Neide e Lílian vivem em Israel, Ismael enriquece Campinas e, agora, é da Sonia que eu quero falar. Ela está há dezenove anos nos Estados Unidos, uma artista onde há muitos (apenas) pianistas. Semana passada, essa doce campineirinha nos levou à emoção extrema diante de um piano, que fica dócil às carícias de suas mãos. Foi a cena mais bela que presenciei nos últimos anos. No teclado, Sonia consagrava Bach, Chopin, Beethoven, Villa-Lobos… Na platéia, dona Zilda, compenetrada, olhos cerrados, dedilhava na haste de seu andador a música que vinha do palco, nota a nota, até pausa fazia. Como se as mãos da mãe conduzissem as da filha, guiando-a pelo bom caminho do ritmo, da melodia… Um só sentimento – maternal e magistral.

Só eu vi. E como me emocionei ao lado dessa mãe maravilhosa! Naquele momento, achei que ninguém no mundo estivesse em melhor companhia do que eu e “aquela santa que mora aqui em casa”. Vi e ouvi a alma da Sonia vibrando nos dedos da mãe – era a música da filha fluindo pelas mãos de sua criadora. Lindo!

Sonia visitou a terra em que nasceu e a presenteou com a generosidade de seu talento – uma oferenda que o mundo civilizado conhece e reconhece mais do que nós. Quando nós, campineiros, pensamos que tudo está perdido, dá-se a aparição desta artista da gente para mostrar que o sonho não acabou.

Longe de nós, Sonia, você exibe ao mundo os encantos da nossa terra. Por ser filha desta mãe incomparável, você só poderia ser o que é e teria nascido a própria música não tivesse nascido gente. Digo a você, “irmãzinha desgarrada”, o que nossa (permite?) dona Zilda disse a mim e àquela “santa”, quando nos reencontramos num longo abraço: “Obrigado por você existir!”.

Pregado no poste: “E Deus criou as professoras!”

E-mail: jequiti@zaz.com.br

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