Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Maldita diarréia

O homem que escreveu a última sentença de morte da liberdade no Brasil, o AI-5, nasceu aqui perto, em Moji Mirim, e estudou no colégio Diocesano, em Campinas. Matou a liberdade com muita vontade.

Está na história: o secretário de Imprensa do ditador Costa e Silva, Carlos Chagas, relata a Ronaldo Costa Couto, no livro “História Indiscreta da Ditadura e da Abertura”, que as considerações do então vice-presidente Pedro Aleixo foram interrompidas pelo agressivo ministro da Justiça, Gama e Silva: “Mas, dr. Pedro, o senhor desconfia das mãos honradas do presidente, aqui presente? É ele quem vai aplicar o ato”. “Não, ministro, das mãos honradas do presidente eu não desconfio; eu desconfio é do guarda da esquina”, respondeu Aleixo.

A exposição de Pedro Aleixo foi acompanhada com desprezo pelos presentes, segundo conta Carlos Chagas. “Enquanto ele falava, todo mundo ria dele”, afirmou. Era a tarde de 13 de dezembro de 1968. À noite, o locutor Alberto Cury, irmão do cantor Ivon Cury, leu o AI-5 na Rádio Nacional do Rio de Janeiro e o Brasil foi jogado na escuridão.

Agora, um cientista político desencava todos os detalhes dos bastidores daquele amaldiçoado dia de nossa história. Logo depois do crime, Gaminha, que vinha sempre a Campinas, cogitava passar o fim-de-semana na propriedade da família Fontoura, aí Itatiba. Quem conta é o motorista do carrasco, quase 40 anos depois: “Deu uma diarréia no homem; tivemos de parar no primeiro posto de gasolina. Ele desceu correndo e saiu pouco depois, todo lambuzado. Não tinha papel higiênico, catou umas folhas de jornal jogadas no chão do banheiro imundo, e as baratas, escondidas entre as olhas, esvoaçaram. Saiu atropelando a porta, calças nas mãos, cueca rebaixada.. O ministro da Justiça da ditadura!”.

Não fosse a diarréia, descobriu o pesquisador, as organizações terroristas ALN e Polop teriam executado o plano de seqüestrar Gaminha, o terrível, em Campinas. Mas da beira da estrada, todo sujo de cocô, sua excelência decidiu ir embora para São Paulo.

Pregado no poste: “Tem vergonha na cara? Não reeleja ninguém!”

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