Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

Luzes da cidade

Nem tudo está perdido nesta nossa cidade. Entre os um milhão e seis mil campineiros, agora obrigados a eleger 33 (Deus me livre!) vereadores, há três fios de esperança, iluminadas, capazes de expressar sua fé na terra onde vivem. Fernanda Fideles Steinberg, dez anos, Briza Machado Barbosa, quinze, e Isabela Daniel, catorze, apostam que Campinas, um dia, renascerá sem que se referissem a qualquer político ou “otoridade”, que, de fato, deveriam fazer pela cidade mais do que jamais fizeram.

Essas três campineirinhas venceram o Quarto Concurso de Redação do projeto “Correio Escola”. As três gostam de ler, preocupam-se com o meio ambiente, com a segurança e se interessam em participar de ações de solidariedade.

Briza não suporta ver o vandalismo contra sua escola, a “Deputado Jamil Gardia”; Fernanda, do colégio “Notre Dame”, fala dos gestos de carinho que, ainda, existem em meio à violência da cidade, e Isabela, do “Alphaville”, está assustada com o caos que domina os campineiros logo pela manhã.

Meninas, não está fácil. Às vezes, vejo vocês como heroínas. Quando eu estudava, jamais meus professores pediram uma redação com esses temas, oportuníssimos, que vocês receberam, como “Minha cidade”, “|Minha escola” e “Meu bairro”. Talvez porque não houvesse grandes problemas. De fato. Briza, as escolas por onde eu passei, para mim, eram as melhores do mundo. Pelo menos, professores, funcionários e diretores se esforçavam para que nós nos sentíssemos na melhor do mundo. Por isso, falo muito sobre elas, neste espaço, com imensa saudade. Para Fernanda e Isabela, só posso dizer que a cidade onde eu vivi era outra. Infelizmente, muito, mas muito melhor do que essa, onde todos têm apenas de sobreviver à sanha da incompetência e da ignorância dos que hoje a exploram para proveito político, nunca para proveito da sociedade.

Seus depoimentos dizem tudo: uma criança preocupada com a violência e duas adolescentes, com o vandalismo na escola e a loucura da população, logo cedo, para ganhar a vida (antes que ganhe a morte). Juro por Deus, nenhuma criança, nenhum jovem, há quarenta, quarenta e cinco anos, se preocupava com vândalos, violência ou com a fúria dos semelhantes para sobreviver.

Tomara que cada político leia com muita atenção o que vocês escreveram e sinta que a culpa por esse sentimento de frustração que emana de seus textos também é deles – mais deles. E que todos, absolutamente todos, peçam desculpas a vocês, seus colegas e seus pais, desistindo de se candidatar nas próximas eleições. As futuras gerações vão aplaudi-los por saírem de cena e ficarão eternamente gratas a vocês.

Pregado no poste: “As Farc reúnem-se em Manaus. Fernandinho Beira-mar será o mediador?”

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