Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Lúcio

— Pode me explicar o que você fez?

— Uai! Passei a bola ‘pa’ Moacyr, que estava livre ali na área…

— Você ainda não percebeu que ele e nada em campo são a mesma coisa?

Era o louco do Robertão, ‘dono’ do campinho da Fepasa, na Rua Hércules Florence, dando bronca no craque Lúcio Hakim.

Hoje, às 18 horas, na Igreja de Nossa Senhora das Dores, será a Missa do Sétimo Dia do falecimento do Lúcio. Anjos da generosidade, deuses da bola e amigos, todos que seguiram seu exemplo de vida, são esperados.

Ele morava na Rua Regente Feijó, pertinho do Cine Rádio, logo depois da virada da Delfino Cintra, a caminho da Vila Judith, onde morava outro companheiro, o Fraju. (Não tenho certeza, mas acho que até hoje, o Fraju é o goleiro do juvenil da Ponte…)

Quase baixinho, Lúcio saltava uns dois metros de altura. Era o favorito do seo Stucchi, nosso professor de ginástica do Culto à Ciência, para desenroscar a bola, presa entre o aro e a tabela. Ainda se perguntam: era melhor no futebol ou no basquete? Foi melhor atleta ou melhor amigo? Melhor empresário ou melhor patrão?

Não podia ver crianças, idosos e pais de família passando necessidade. Uma vez, com a turma que se reunia na esquina da Antônio Lobo com Hércules Florence, ganhou um bom dinheiro no jogo de bicho, bem jogado no bar do Pimentão, ali na Zé Paulino. Acho que acertamos na milhar. Saímos rumo à lanchonete das Lojas Americanas, pela Álvares Machado. Daquele velho ponto dos ônibus do “interior” que havia ali na frente da filial das Pernambucanas e do seo Garcia, o Rei das Molas, desceram esquálidos marido, mulher e cinco crianças. Ele nos convenceu a dar todo o prêmio do jogo para aquela família. “Trocamos nossa ceia pela ceia do Senhor”, disse para aquele homem assustado, agradecido, aflito, choroso, sorridente. Flou brincando para nós, mas sério para o faminto.

Quem conheceu essa turma, sabe que nem Dorival, Ilton Cabrita, Benê e Oswaldo formaram um ataque tão avassalador, só que nas quadras do futebol dos salões da cidade: Wilson Malavazzi (eterno Peludo), Luís Carlos, Lineu Renato Henriques, Ademir Torquato e ele. E olha que Bita, Fraju, Diógenes (filho do seo Zé de Lima) se revezavam. Um luxo.

Hoje, na hora sagrada do Ângelus, vamos até a Igreja de Nossa Senhora das Dores sentir com a família do Lúcio a senhora das nossas dores, a da perda de um amigo.

Pregado no poste: “Deus está em boa companhia”

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