Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Let’s twist nunca mais!

(Ou de como não ter noção de física pode acabar com seus meniscos.).

Foi assim: semana passada, li um velho anúncio, de 1962, que pergunta: “Você sabe dançar twist?”

Convida os jovens brasileiros a conhecer “a novíssima sensação em dança, de Nova York a Paris. O Arthur Murray Studio de São Paulo anuncia que o Sr. Michael de Marco, representante pessoal do Sr. Arthur Murray, diretamente da cidade de Nova York, está visitando nosso estúdio em São Paulo, por um tempo limitado, a fim de introduzir o twist para o Brasil. Como resultado dessa visita especial, o Studio de Arthur Murray agora inclui uma aula no ritmo de twist grátis. Rua Augusta, 1.030. Marque uma hora especial das 13 às 22 horas para uma análise completa de sua dança.”.

Como nunca ouvi falar de escola de twist em Campinas, fui aos oráculos e todos disseram que aprenderam nos filmes com Chubby Checker na televisão e imitadores brasileiros. Certo é que tirando alguns passos do charleston e do rock, o twist separou de vez os casais — para a alegria dos papais. (Como dizia João Francesco Guarnieri, os bailinhos eram movidos a disco 78 rotações, porque quando a coisa começava a esquentar para baixo do umbigo, a música acabava. E a cada meia dúzia tocada, titia entrava na sala para trocar a agulha da vitrola. Long Play, com 20 minutos de cada lado, era um perigo!) Hoje, com CD, a turma ‘C’ome e ‘D’ança e ninguém liga. Até sofisticou: tem “ai, pode!” e “aí não pode!”. Já virou bagunça: “em pé 3”, “em pé 4”…

Minha última salvação para descobrir uma escola de twist em Campinas acabou na tragicomédia vivida pelo meu amigo Edgard Salvador de Figueiredo, marido da Raquel e genro da lendária mestra Dionéia Bolsonaro. Dia desses, Ralfo, cunhado dele e nosso colega no Culto à Ciência, inventou de fazer 60 anos. Estavam todos a dançar de rosto colado. De repente, ainda com a pista tomada pelos sessentões, alguém trocou chá-chá-chá, bolero, e samba canção por twist. Explicação tecnológica do Edgard para a seqüela do ritmo infernal:

— É preciso saber física e pesar menos de 90 para dançar twist. Quem não souber, “dança”. Como se sabe, os pés ficam presos ao chão. Quando o bumbum balançar (to twist) para a esquerda, o joelho se vira para a direita — e vice-versa. No gordo, com mais de 60, e sem se lembrar das aulas do professor Moacyr Santos Campos, a gingada comprime os meniscos e o dançarino se arrisca a sair de cadeira de rodas do salão. Não deu outra. O Paulo Paes Pereira falou que se eu não emagrecer, nem adianta operar. Voltar ao twist é outra história.

Pregado no poste: “Quem não pode com o twist fica no Twitter”

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