Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Lá lôngeles

Você já ouviu falar em Burkina Faso ou coisa parecida? Não ‘faso’ a menor idéia. Pois é, papagaio come milho, periquito leva fama. E assim, o porco virou símbolo de um clube paulistano. Quando a gente ouve falar nessas histórias, já pensa que tudo se deu em Burkina Faso. Lembra-se do carrasco nazista Joseph Menghelle? Passamos a vida ouvindo que o ditador paraguaio Alfredo Stroessner escondia o fazedor de anjinhos. O cara estava no Brasil. Você viajaria num avião do Lloyde Aéreo Boliviano? Pelo menos até essa empresa completar 62 anos, nenhum dos seus aviões sofreu acidente algum.

Mas aconteceu num desses povoados situados entre a Oceania e a América do Sul. A dívida do povo com o governo do lugarejo estava alta. Muita gente deu o calote no IPT (No Brasil políticos pregam calote até no PT.) Naquela currutela, havia também um prédio mais cobiçado do que a boneca do Jorge Veiga, Bolinha e Biá. Em tempos passados, servira de nosocômio e manicômio, mas não pagava os encômios. O dono morreu. Uma dona comprou, para fazer daquilo um asilo tranqüilo. Mas morreu sem concluí-lo. Sobrou para dois sobrinhos que não sabiam se contribuíam, vendiam, construíam ou destruíam.

Demagogia é a depravação da democracia. O povo pensa nesse tipo de perdão como gesto de generosidade de algumas autoridades. Mas enquanto uns aliviam-se de parcos caraminguás, outros aproveitam para ganhar na loteria sem jogar. Só que o rateio entre os ratos é rateado com dinheiro do povo.

Foi então que apareceu um terceiro aventureiro e propôs aos sobrinhos: “Se vocês conseguirem uma lei perdoando essas dívidas de nossa pobre população, e essa é uma boa desculpa, eu pago a dívida, a correção e as multas, fico com o prédio, especulo no mercado, pago a diferença e ainda ajudo a quem ajudar vocês.”

Detalhe: multa e correção somam mais do que o valor da boneca cobiçada, aquela “das noites de sereno / teu corpo não tem dono / teus lábios têm veneno / se queres que eu sofra / é grande o teu engano / pois olha nos meus olhos / vê que não estou chorando…”

Pregado no poste: “Longe da cadeia, mas perto do cemitério”

 

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