Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Lá como cá, cana não dá

Recebi uma coleção de charges (desenho humorístico tendo por tema algum acontecimento atual, que comporta crítica) esculhambando a realização da Olimpíada no Rio de Janeiro. Como cada modalidade deve ser ilustrada?

Os círculos olímpicos são cinco algemas. O mascote dos jogos é um bandido do morro empunhando uma metralhadora, como aqueles que aparecem no Jornal Nacional. A tocha olímpica é um ônibus em chamas ateadas por um encapuzado. A prova de tiro é um menino recebendo duas balas disparadas por um traficante e um policial. A corrida de obstáculos é a travessia da Avenida Brasil – cada carro, uma barreira a saltar. Nado livre, claro, é um homem enfrentando a enchente. Ginástica de solo: desviar dos buracos sem cair neles. No (a)ssalto em distância, um político na praia ordena pelo celular: “Desvia toda a verba e manda para minha conta na Suiça”.

Encaminhei para uma amiga que vive na Holanda tem mais de vinte anos. Sua resposta, nua e crua:

“Pois é, Moacyr, nesta semana passou no jornal o que a polícia faz com os bandidos: executa e diz que resistiram à prisão. Aí, lembram dos eventos que vão acontecer no Brasil… Aqui, eles realmente respeitam os direitos humanos: um pedófilo que é pego e vai para a prisão, que mais parece um hotel cinco estrelas, fica um aninho lá fazendo fitness e terapia, sai e vai ser vizinho de suas vítimas, além de fazer novas. Afinal ‘coitadinho’, ele já cumpriu sua pena! Melhor ainda são os assassinos que têm direito a passar férias em casa, devido à boa conduta. Eles saem como anjinhos, matam mais alguns pelo caminho e desaparecem do mapa. Aí a Justiça diz que foi um engano e que serão tomadas medidas a fim de evitar a repetição. Ouço isso desde quando cheguei aqui.”.

Aqui, seja qual for, a tragédia vira piada. Até na ficção. Respondi:

— Passa uma novela do Manoel Carlos, a das oito que começa às nove, chamada ‘Viver a vida’. Protagonista, Aline Moraes, no papel de modelo que sofre acidente de ônibus na Jordânia. No hospital, após cirurgia da coluna, o médico dá a sentença para a família:

— Ela ficou tetraplégica!

Após essa fala, entra um site de gozação chamado Kibeloco, que emenda uma cena da conquista da Copa do Mundo nos EUA. É o Pelé mais o narrador Galvão Bueno berrando:

— É tetra! É tetra! É tetra!

Pregado no poste: “Felicidades aos formandos de 1959 do Culto à Ciência!”

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