Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002Crônicas

Jovem tem saudade-1

Agora, eu quero ver. O João Batista Ribeiro, amigo que eu (ainda) não conheço, ataca de novo e fala de uma Campinas que deixou saudade – para ele e sua geração. Li tudo e percebi que estou mais “véio” do que imaginava. Afinal, nem conheci a maioria dos lugares de que ele fala. Na verdade, uma paisagem que nem existia quando deixei esta santa terrinha. Um exemplo: ele cita a pizzaria Bonelli como ponto de reunião das famílias nas noites de domingo. No meu tempo, dava para comer pizza no Bar Rosário, no Giovanetti, no Éden Bar e só. Hoje, duvido que alguém tenha coragem de sair à noite – a violência deixou até a Bonelli na saudade.

O rol da saudade do João é tão grande, que nossa vigem começa hoje e termina amanhã. Como dizia o saudoso Hélio Ribeiro, “exceção feita aos pobres de espírito, queiram todos tomar os seus lugares” (tomara que a moça do Karman Ghia vermelho nos acompanhe…):

Os ônibus urbanos eram pintados de verde. Um dos points das tardes de sábado e domingo era a Sorveteria Villani, no Taquaral. Outro, o Express (único estabelecimento 24 horas de Campinas). Mas os manos foram chegando junto e ninguém mais foi. Faliu. Os playboys da nova Campinas tiravam rachas na Avenida Jesuíno Marcondes Machado. Alguns começaram a morrer. Colocaram radares e a festa acabou. O Colégio Anglo-Taquaral abriu e todos queriam estudar lá. Cursinhos: Anglo, Objetivo, Universitário, Etapa e só. Ninguém sabia direito onde ficava o Colégio Rio Branco, mas ele ganhava tudo no Intercolegial. As melhores gincanas eram do Colégio Integral – que só tinha no Cambuí.

Havia cinemas só no Iguatemi e no Centro. Quando Batman, estreou no Cine Jequitibá, as filas subiam a General Osório até quase o Largo do Rosário, que também tinha árvores. Os cines do Iguatemi se chamavam “Serrador” — tinha até um busto do tal Serrador cravado na parede de frente do cinema, embora ninguém saiba até hoje quem tenha sido esse sujeito. (Uma curiosidade, João: não havia shoppings, e quando os Beatles estrearam no Ouro Verde, com “Os reis do ié-íé-ié”, havia mais gente no Windsor, para ver Elvis Presley.).

Boates da Hípica e da Fonte; Carna-abril e Carna-agosto, na Hípica; Carnaval, mesmo, no Círculo ou no Cultura. (João, o pessoal do Regatas, do Tênis, do Andorinha, do Concórdia e de outros mais vai chiar com você. E eu não tenho nada com isso. Nem morava mais aí…) Amanhã tem mais.

Pregado no poste: “Com mais de 50, vestir a cueca em pé é perigoso”

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