Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Jiló com Toddy

O IBGE descobriu que nos últimos trinta anos, o brasileiro comeu menos arroz, feijão e pão. Mas triplicou o consumo de refrigerantes e bolachas, dobrou o de bebidas alcoólicas e aumentou 50% o de carne, leite e derivados. Frutas, sucos, verduras e legumes continuam na mesma. Gozado, essa pesqisa não fala em ovos, batata e massas – deve ser o que mais se come por aí. No Norte, peixe é o forte. Já estamos mais obesos do que desnutridos, só que obesidade não é sinônimo de nutrição, mas nome de doença.

No Sul e Sudeste, come-se mais o que a publicidade sugere. Muitos ouvem que “um danoninho vale por um bifinho”; que a Coca-cola “faz um bem!”; que como a hora do lanche é hora tão feliz “queremos biscoitos São Luís”; que “Mila é a margarina que veio do milho pra você”; que Toddy é “o sabor que alimenta”; que “a mamãe mandou dizer para comprar uma lata de biscoitos Aymnoré”; que Nescau é vitaminhado “pra criança fortalecer”; que é bom sentir “o gelinho de Kibon no seu nariz”; que Hellman’s é “a verdadeira maionese”; que salsicha é com “s” de sadia (juro que eu pensei que fosse com carne…); outros passam a vida encafifados se não sei o quê “é mais fresquinho porque vende mais ou vende mais porque é mais fresquinho” — e um bocó leu que “Hollywood é sabor de ação” e comeu um maço de cigarros. Fora o leitão que quando crescer quer ser salsicha, “ué!”; “mas salsicha do Firgorífico Santo Amaro, né?”.

Hoje, criança quer ovo para ficar com o bonequinho “qui tem drento” do Kinder Ovo. Ou pede passatempo para ganhar um chaveirinho, fora aquele sanduíche de plásitco que vem acompanhado de pedaços do Snoopy. Coitado do Snoopy, tudo culpa do Carlie Brown.

Será que ainda tomam gemada (já sei, você toma, mas com ovo de codorna, certo?). Já comeu taioba refogada? Bolo de fubá, bolinho de chuva? E canja de galinha? Sopa de feijão, salada de frutas, inhame (delícia!), canjica, rabada e rabanada, polenta com frango ao molho pardo, banana assada, mandioca cozida, coalhada, berinjela, mingau de aveia, crústole, bucho, sequilho, merengue, suspiro, cambuquira, xuxu, broto de feijão, quiabo (outra delícia) sumiram do cardápio do lar.

Você é do tempo em que o Mercadão vendia de tudo? Então — se der uma voltinha por lá hoje, não encontrará metade do que havia nas bancas do Juca e da dona Maria Vieira, nos armazéns do Salim e da dona Yasmin Murtada, do seo Antônio Cecconi, do Dino Zamariolli, do Marchesini, no açougue do seo Pires, na peixaria da dona Rosa Tavares, na venda de óleos do seo Blascovi (bela voz!). Quer saber? Nem nas bancas de jornais da dona Olésia e do Nardo. Só de brincadeira, procure em qualquer banca da cidade um catecismo do Carlos Zéfiro. Até isso acabou.

(Desde que a indústria deu para a mulher o freezer, o microondas e os congelados; permitiu que ela trocasse o tanque e a pia pelas lavadoras, e o aspirador de pó zerinho pelo segundo carro da família, por que ela vai se preocupar em cozinhar? Um cafezinho, um ovo cozido, de vez em quando, e olhe lá. Por isso é cada vez maior o número de homens cozinhando e mulheres passeando. Já reparou? Até na televisão: são dez cozinheiros – de forno e fogão — para uma, só de microondas…)

Puts! Esse parágrafo entre parênteses, aí em cima, é para deixar qualquer feminista furibumbum comigo, pronta para cancelar a assinatura do jornal, mandar me prender por machismo e enviar uma carta para o “Correio do Leitor” me esbugalhando. É que aquela santa que mora aqui em casa viajou, o serviço de vigilância literária está em recesso e eu posso escrever tudo o que penso sem pensar em nada do que escrevo.

Pregado no poste: “Se a Treze for exemplo, Várzea Paulista vira brejo”

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