Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

Já foi ao Itatinga? Então, vá…

Aproveite enquanto é tempo. Não, o Jardim Itatinga não vai acabar. Imagine! A mais antiga das profissões vai acabar? Pelo jeito, já existe até curso de formação, graduação, especialização, mestrado, doutorado, phd, emibiêi. Até mudou de nome: profissionais do sexo. É como muambeiro que vem do Paraguai com seus diplomas, digo, sacolas. São os “executivos da fronteira”.

Muito divertida a reportagem do Gilson Rei contando a curiosidade dos passageiros dos ônibus que, por causa de uma obra, têm de passar por um atalho que corta o velho bairro das primas do Itatinga. Você acha que ele encontraria alguém que dissesse: “Eu já conheço aqui.”. E a vergonha? Vergonha, nada, e o preconceito? No fim, a reação dos viajantes é que supreendeu o repórter: para eles, a paisagem do bairro é a mesma exibida nas praias e novelas brasileiras. Bumbum e demais apetrechos já não são novidade para ninguém. Antes, diziam “atributos”, mas agora, com tanto silicone, botox, prótese, piling, raspagem, rinsagem e bobagens, é apetrecho, mesmo. Só fica como nasceu quem quer.

Muita gente, e bota gente nisso, tem a história de pelo menos uma escapada, nem que fosse só para conhecer. Sei das histórias de dois repórteres. Um já “se mudou-se” de Campinas faz tempo. Quando motel era hotel de beira de estrada, para viajantes, digamos, mais requintados, que não queriam dormir em alojamento de posto de gasolina, exisitia um na beira da Anhangüera, do lado de quem vem do “interior”. O motel pertencia a um banco. Lugar até que chique. Lá no fundo, os quartos. Um dia, o repórter, de tanto passar horas ali, inventou de levar a esposa. O porteiro, que ainda não era treinado para ser porteiro de motel, quis ser gentil com o distinto casal: “Boa noite, seu Dunha! O senhor já sabe o caminho, né?”

O outro, coitado, está com a cabeça inchada até hoje. Não se conforma com a bobeira. Saiu com a digníssima senhora para um passeio lá pras bandas de Americana e na volta, no trevo, a força do hábito virou a direção do carro para o rumo do Itatinga: “Deculpe! Eu me perdi! Não sou safado! Nunca fui lá! Pára! Você vai me machucar! Olha o carro, está dançando!”.

Quem são os dois repórteres? Não conto. Por que você está me olhando com essa cara? Nem sei dirigir, uai!

Tanto não sei que, um dia, uma prima (de verdade), queria porque queria conhecer o bairro das primas. Morria de curiosidade. Fomos. No carro dela. Imagine: tarde de sábado. O Itatinga já fervilhava, e a prima de verdade espantada com as primas de toda a cidade. Todas eram só sorrisos. Loucura: veio até convite para entrar! Um gaiato ousou: “Carne nova no pedaço, gente!”. Aí, a prima de verdade achou melhor se mandar.

Na volta, na última esquina, um grito: “Marta! Moacyr! O que vocês estão fazendo aqui?!” Juro: o carro afogou. Minha prima de verdade não parava de tossir. A prima que nos chamou pelo nome era nossa colega de faculdade e morava no Itatinga! Nem por isso deixou de ser a grande figura e boa colega que sempre foi.

Pregado no poste: “No Brasil, voto tem valor ou tem preço?”

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