Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Insetos

Sabe o Monteiro Lobato? Há infelizes que ainda não o conhecem. Conhecer Lobato é saber do passado, do presente e do futuro. Compare a história de hoje com contada no fim dos anos 40, em “A Chave do Tamanho”, e entenda como quiser:

“Sobre o tapete, por entre as roupas em monte, um pequeno grupo de insetos descascados discutia a situação. Era o governo americano. Um dos ministros tinha a palavra:

— O governo já ao existe, pela simples razão de que já não existe o que governar. O extraordinário fenômeno que destruiu o tamanho dos homens desta grande nação veio alterar completamente as antigas condições de vida – e impossibilitar a existência do governo. O governo americano, que ra o mais poderoso do mundo, está hoje nu, com frio, sem sequer uma tanga para os rins, sem sombra de povo, sem força, sem a menor idéia na cabeça. Eu pergunto ao senhor presidente: quais são hoje os problemas do governo americano? Qual é o problema número um, que devemos abordar antes de todos os outros?

O presidente respondeu que já haviam decidido aquele ponto. O problema número um do governo americano, o problema que tinha vindo substituir o da luta contra o Japão e a Alemanha, era fechar a janela da sala e manter o fogo da lareira.

— Por enquanto o palácio ainda está aquecido – disse ele -, mas logo que as fornalhas do aquecimento lá nos porões se apagarem e as brasas da lareira se extinguirem, estaremos inexoravelmente condenados ao congelamento. Os problemas são esses.

Outro ministro pediu a palavra.

— Meus senhores, acho que não podemos prever coisa nenhuma. A situação é das mais absurdas e ilógicas. Sinto-me completamente incapaz de raciocínio. As observações do senhor presidente sobre as brasas, entretanto, parecem-me das mais sensatas. Estamos no inverno. Se as brasas da lareira se apagarem, o governo americano estará perdido. Há também o caso da janela. Como poderemos resistir ao frio, se as brasas se extinguirem e a maldita janela continuar escancarada?”

Pregado no poste: “Fora Bush! Lulla, também!”

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