Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Infeliz aniversário

Devia estar honrado e orgulhoso pela atenção. Dona Izalene Tiene é a primeira chefe da cidade que me convida para visitar Campinas no dia do aniversário da nossa cidade. Uma gentileza digna dos tempos em que vivíamos na “Capital da gentileza”, como anunciava o querido Jolumá Brito, um dos historiadores do nosso orgulho de sermos Campineiros. Nada fiz para merecer essa reverência, cara alcaidessa, mas, desculpe-me, não vou.
Vamos falar francamente? A senhora não tem culpa de quase nada, ‘nadica’, pelo estado em que se encontra esta terra. Mas não vou porque tenho medo, tenho vergonha, tenho tristeza e tenho nojo. E tenho pena e uma decepção muito grande com a senhora, que, convenhamos, não tem nada a ver com o cargo que ocupa, nem como prefeita nem como assistente dos que se aproveitam disso para administrar a cidade como um diretório acadêmico, um sindicato, uma casa paroquial, um partido político, uma comunidade de base, um curral eleitoral, essas coisas. Assim, a senhora ajuda tudo a piorar.
Nem na fase tenebrosa da febre amarela, ou sob a violência contra nós cometida pela Revolução de 24 e pela canalha getulista, em 32, Campinas esteve tão humilhada como agora. Ela faz 228 anos num contraste brutal com a vida, até glamurosa, de quando celebrou, por exemplo, o bicentenário – nem faz tanto tempo. Campinas era referência nacional, muita vez mundial, em todas as áreas do conhecimento, da cultura, das artes. Hoje, ela é o símbolo da violência, da desordem, da falta de liderança e do respeito dos cidadãos para com suas autoridades, porque elas, a um tempo, não se fazem respeitar e debocham da sensatez a que os campineiros estavam acostumados. O povo de bem desta cidade está de costas para o Palácio dos Jequitibás. Anda de cabeça baixa, assustado e não acreditando no que vê e no que sabe sobre o que não o deixam ver.
Na terrível febre, em 24 ou em 32, houve quem nos socorresse e conosco partilhasse a saga da ressurreição – aquela ave em nosso brasão é uma fênix renascida das cinzas, prefeita. Tomara que depois de nos livrarmos dessa borrasca febril que usa a senhora para testar instintos políticos, os campineiros daqui e de fora possam desenhar nova fênix no brasão, reconstruir este lugar, e deixá-lo como era, pelo menos como nos tempos em que o Céu ficava em Campinas e era para todos.
Pregado no poste: “Temos de esperar até 2004?”

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