Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2001Crônicas

Inesquecível

Não fosse o salmão grelhado servido no Frango Assado de Sumaré, a viagem teria sido melhor. Prato inesquecível aquele: está no estômago até hoje. Como diria o insuperável Stanislaw Ponte Preta, “só faltou uma ambulância na porta do restaurante…” Como outros que aceitaram minha sugestão não reclamaram, acho que fui “premiado”.

Pela primeira vez entrei na galeria onde um dia funcionou o Cine Ouro Verde, esse sim, inesquecível. Ele foi inaugurado em junho de 1955, com uma novidade para Campinas, o “cinemascope”, exibindo o filme “A fonte dos desejos”. Em vez de bater palmas, a platéia deixou o cinema batendo os pés: “Cruz credo! Os artistas ficam com cara de tartaruga, tudo esticadinho!” — era o que mais se ouvia na saída da Rua da Conceição. Quem estava na fila para a segunda seção, que naquele tempo começava às nove e meia da noite, ficou ressabiado. A cidade demorou para se acostumar com o tal “cinemascope”. (Só pra lembrar, naqueles tempos, quando passavam um filme colorido, anunciavam que era uma “película em technicolor”. Assim mesmo, com “ch”.).

Belo cinema o Ouro Verde! Só deu um vexame na vida. Tá bom, dois! O segundo, quando exibiu com exclusividade em Campinas “Os reis do ié-ié-ié”, filme de estréia dos Beatles. Acho que foi em 64. No Windsor lotado em todas as seções, Elvis Presley roubou a noite. Na segunda sessão dos Beatles, quase ninguém no Ouro Verde.

O primeiro vexame aconteceu quando passou “Psicose”. O Lélio Roberto Henriques, irmão do Lineu, aquele, dono do Nick, cachorro que só faz xixi quando vê subir balão-galinha, era aprontador. Na hora do maior suspense do mestre Hitchcock, na famosa cena do chuveiro, o Beto agachou-se e, com o indicador e o polegar, apertou o tornozelo de uma jovem sentada à sua frente. O grito de susto da coitada eu ouvi ainda na tarde de quinta-feira, quando subia pelas escadas rolantes da galeria.

Pobre Ouro Verde! Nessa galeria, ele sobrevive num retratinho melancólico, em preto e branco, ao lado de outro, do bonde 6, no Jardim Carlos Gomes, quando voltava do Cambuí para o centro da cidade. As relíquias estão no escritório da advogada gaúcha Maria Amélia Sousa da Rocha.

Pregado no poste: “O Renato Otranto virou pontepretano!”

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