Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Incluídos

Naquela sala de aula imensa, à minha frente se sentava um japonesinho esperto, inteligente, bom de bola também. Seus pais tinham uma pensão humilde nos altos da Avenida Campos Salles. Na primeira fila, uma menina, filha de um cobrador de bonde. Lá atrás, o filho de um renomadíssimo oftalmologista do Instituto Penido Bournier. No meio, um garoto loiro era filho de um sitiante de Valinhos. Os pais de outro eram donos de um pequeno empório da Rua José Paulino.

Havia, ainda, o filho de um fazendeiro de Jundiaí. Outra garota era filha de uma balconista das Lojas Americanas e o pai de um baixinho, tímido que só ele, tinha uma loja de calçados na Treze de Maio. Na última fila, o mais alto era filho de um pesquisador do Instituto Agronômico e o pai de outro aluno tinha um comércio de peças para caminhões, na mesma Campos Salles.

Tive colegas filhos e filhas de escrivão de cartório; dono de armazém no Mercadão; motorista de táxi; vendedor ambulante (é verdade!); soldado da velha Força Pública; gerente de cinema; barbeiro; padeiro; assistente social…

Essa mistura de todas as classes se dava nas classes da velha Escola Alemã — depois da II Guerra, o Colégio Rio Branco de hoje. Dia desses, a reportagem do Correio sobre mensalidades cobradas em escolas particulares de Campinas me chocou. Elas estarrecem. Algumas batem nos R$ 500.

Imagine se hoje filhos e filhas de balconista, cobrador de ônibus, soldado da PM, ambulante (sei, não…), pesquisador, sapateiro, taxista, barbeiro ou padeiro têm chances de estudar nessas escolas. E a escola pública era tão boa ou melhor do que a particular.

As mensalidades não são caras, diante da qualidade do ensino que muitas oferecem. A Nação é que se arrasta cada vez mais empobrecida e humilhada por governantes de nenhuma categoria. Quantos filhos desses poderosos estudam em escola pública? Destruíram o ensino público e não colocam os próprios filhos para chafurdar na carniça que deixaram. Professor de escola pública é o herói de hoje; seus alunos, os mártires de amanhã.

Pregado no poste: “Éramos incluídos e não sabíamos”

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