Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Imaculada

Idade chegando, filhos crescendo, cabelos brancos aparecendo nos tornam mais sensíveis, emotivos, trazendo à memória o gosto melhor do que já foi vivido.
Neste clima de emoção, alegria e saudade, recordo o Colégio Imaculada. Pequena, quatro, cinco anos, comecei minha vida escolar. Toda engomada da cabeça aos pés: nosso chapéu do maternal, idos de 1959, era engomado e passado a ferro. Com ele em nossas cabecinhas, mal podíamos nos mexer na porta da escola. Fazia parte do uniforme este cerimonial digno de estrelas menos famosas de Hollywood.
Crescemos e o uniforme foi mudando. A saia já era pregueada — corpete, tentando esconder nossa juventude querendo desabrochar… Ai que saudade da Madre Ruth! Em visita fora do horário, nos dava um par de mangas de camisa de papel duro ‘para esconder a nudez dos braços’!
Mais crescidinhas, ganhamos a saia de xadrez inglês com blusa branca, sempre um dedo abaixo dos joelhos. Mas ao último toque do sinal, corríamos ao banheiro, dobrávamos o cós da cintura pelo menos duas vezes, para, ao sairmos da escola, exibir a ilusão da minissaia. A ‘saída’ do Imaculada era muito famosa — um desfile único. Os ‘playboizinhos’ do Tênis, do Culto a Ciência, estavam sempre à porta, encostados no muro das casas em frente a paquerar, a olhar, a curtir as meninas. Uma alegria só! As meninas, suas saias curtas e enroladas e os olhares furtivos dos garotos da cidade. Saudade, delícia!
As lembranças passeiam na minha mente, claras. Quero pegá-las e viver de novo. Não posso. Mas posso, com amor, lembrar de quase todas as ‘madres’, como as chamávamos. Madre Cecília, a de rosto angelical; Teresa, a que quebrava nossos galhos; Maria do Carmo, guia religiosa; Ângela, a prefeita; Odete, mestra severa; Vanda, a jovenzinha da nossa turma; Nazaré, a que nos recebia à porta… Deixaram saudades e lições de vida.
Anos de convivência sadia, harmoniosa com as irmãs, amigas, professores e serventes. Às vezes, não me dou conta de que o tempo passou — ainda sei decor, e sempre a ele recorro nos momentos difíceis, o refrão do início das aulas: ‘Menina Maria rogai por nós’.
Cresci, vivi, casei-me e, anos mais tarde, meus filhos, Gabriel, 20 anos, e Felipe, 18, também foram parte desta vivência; também conheceram a ‘Árvore da Santa’; subiram aquelas escadarias de mármore; brincaram na capelinha, no balanço… Coincidência ou não, ainda cantarolam, sem perceber, o refrão da música em louvor à Madre Cândida Maria de Jesus. Nesta hora, vêm as lágrimas e me calo.
Sempre serei grata ao Imaculada.

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