Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Gente boa!

A cadeira ainda é a mesma, há mais de meio século — da marca Ferrante. As máquinas tinham número, “zero”, para recrutas e calouros; a “um”, para marinheiros e escovinhas e a “dois”, para os “normais”. A tesoura, “Mundial”, hoje substituída por modelos importados, da Alemanha, Itália, Japão e Estados Unidos. O pente era “Flamengo”, já trocado por modelos de osso, “mais duradouros”. As navalhas, que nem se fabricam mais (eu acho), eram afiadas numa tira de couro de carneiro, que levava uma massa de “não sei o quê” com chumbo (!), até ficar preta. O fio ficava mais cortante do que passado na lixa do irmão sapateiro, o Abdalla.

O esterilizador de toda essa parafernália ainda funciona, depois de 55 anos, movido a álcool e… fogo, naturalmente.

Para barbear, o creme William’s. O pincel, com pêlos de carneiro, tinha a marca “Batil”, que ninguém sabe de onde veio. Insuperável até hoje. E depois do barbear, “arco, tarco ou verva”, Cecílio Elias Neto? “Verva”, claro! Que nasceu “Água Velva”, na Bozzano, e virou “Aqua Velva”, por insistência do inimitável Pedro Luís, um dos melhores narradores de futebol da história do rádio. Sim, porque eram esses os únicos produtos do “toucador masculino” e, obviamente, patrocinavam as transmissões esportivas. Como navalha era coisa de malandro, foi trocada por lâminas “gilete” nos salões e transmissões.

Essa “hora da saudade” veio inteirinha esta semana, depois que vi o grande José Bittar, que o mundo campineiro conhece por “Zé Turco”, na revista Metrópole, exibido pelo repórter Bruno Ribeiro, ele, como eu, herdeiro de um freguês do salão que o Zé Turco dividia com o Zé do Norte e o Joãozinho Martins, no alto da Zé Paulino — quase na emenda com a Barão Geraldo de Resende. Levo uma vantagem sobre o Bruno: também sou neto de freguês do Zé Turco, dos tempos em que ele já “fazia” as melhores cabeças da cidade. Afinal, cuidava da barba, cabelo e bigode do doutor Silvino de Godoy, do jornalista e advogado Francisco Isolino de Siqueira, do jurista João Mendes, do Waldomiro e do Arlindo Girardi Jacob, do José Zaquia e do prefeito Miguel Cury, este, justiça se faça, um dos últimos prefeitos que Campinas teve.

Zé Turco, da Manuela, da Cíntia, da Márcia e do Cauê. Nunca fiz propaganda de ninguém, mas esse Zé Merece fazer sua cabeça. Zé, qualquer dia baixo aí na Oliveira Cardoso, 107, com os dois corintianos que moram aqui em casa, só para você dizer que fez a cabeça de quatro gerações. O orgulho é meu.

Pregado no poste: “Ainda há campineiros em Campinas”

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