Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Gato por lebre

Esta aventura tem sete anos. Conta a história de um dos primeiros namoros virtuais tornados públicos no Brasil. O romance cruzou o ciberespaço brasileiro, de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, a Paranaíba, no Piauí. Foi assim: um enganou o outro, o outro enganou o um e o computador enganou os dois. A artista plástica Carla Patrícia, 29 anos, solteira, agarrava-se ao Prozac para vencer a solidão. Assim, conheceu “Flávio Caiado”. Amor ao primeiro clique. A troca de fotografias aumentou a paixão, e aí começaram os desenganos.

Ela mandou para ele fotos do tempo de modelo. Tinha 18 anos nas imagens recebidas por “Flávio”, que morava em Goiânia. Charme e meiguice que os anos, e alguns quilinhos a mais, já apagavam. A Carla apaixonada via Internet não era mais a das imagens transmitidas na rede mundial.

Em troca, recebeu fotos de um “Flávio Caiado” atlético, “criador de touros reprodutores e dono de um iate”. Nas “amostras”, aparece um rapagão de torso nu no convés da embarcação e à porta de uma BMW. Também Flávio não é nada disso. Nem “Caiado”, sobrenome de poderosa família goiana. Seu sobrenome é um prosaico Silva. Só.

Só foram saber quem é quem, quando Carla demitiu-se da loja de tintas onde trabalhava como “promotora de cores”, em Campo Grande. Juntou mais R$ 10 mil da poupança e partiu ao encontro do parceiro em pleno Planalto Central. “Os primeiros dias eram de felicidade; dois pombinhos”, contou a mãe, a paisagista Maria Concepción.

O susto se deu, quando o gerente do Banco Real em Campo Grande estranhou o valor de um cheque de Carla: R$ 4.500,00, para pagar a conta de um luxuoso hotel de Fortaleza. Alertada pelo bancário zeloso, dona Maria mandou bloquear a conta da filha, chamou a polícia e ficou apavorada: no hotel, informaram que o casal partira em um carro alugado, deixando tudo na suíte, onde passaram cinco dias.

Com a ajuda financeira do senador Lúdio Coelho e do patrão de Carla, dona Maria comprou três passagens para a delegada e duas agentes, que voaram para Fortaleza. Em Goiânia, o pai dele engrossou a apreensão: “Meu filho tem 35 anos, passa por problemas psicológicos, mas não é violento”. Flávio era procurado pela Justiça, por que não pagava a pensão alimentícia das filhas do casamento fracassado, e tinha um processo por estelionato.

Rastreando os cheques de Carla, um delegado descobriu que eles já estavam em Paranaíba, Piauí: “Ela foi induzida por um estelionatário, que escolhe só lugares isolados para se hospedar, porque as vítimas não têm tempo de verificar que os cheques estão bloqueados”. Deu 24 horas para pegar o casal. Pegou.

Já em Campo Grande, ela e as policiais receberam um buquê de flores de dona Maria, que, por via das dúvidas, levou um comprimido de Prozac, igual ao que filha esquecera no hotel de Fortaleza, quando o namoro estava só começando.

Pregado no poste: “Santo Antônio deve estar rindo desses dois”

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