Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Garotos cinqüentões

Quando eles nasceram, a moda em Campinas era ir de Expresso Brasileiro ou Trem de Luxo a São Paulo, conhecer o Parque do Ibirapuera, assistir à Exposição do IV Centenário e fazer compras na loja Clipper, só para andar na escada rolante, a primeira do Brasil. Muita gente aproveitava para tirar fotografia e mostrar aos amigos do Interior “uma escada que anda.” Ano inesquecível aquele: Marta Rocha perdeu o “Miss Universo” por duas polegadas; Getúlio Vargas, além de bandido, covarde, se matou; o Corinthians virou “Campeão dos Centenários”; minha irmã nasceu… Ih! Contei. Nova “cinqüentona” na praça. Também nasceram Chitãozinho, Sócarates, João do Pulo, a Regina Casé e o Oscar “Mão Santa”.

Campinas, do prefeito Mendonça de Barros, 155 mil habitantes, crescia. Inauguraram a fábrica de peneus Dunlop; criaram a Associação Campineira de Recuperação da Criança Paralítica; no palácio do bispo d. Paulo de Tarso Campos, assinaram a doação da área para a construir o campus da Puccamp (demorou para ficar pronto…); inauguraram ainda o Restaurante Universitário e a paróquia Imaculada mais o cine São Jorge, ali no São Bernardo. O Instituto Agronômico ganhava autonomia; era consagrado o Seminário Imaculada Conceição e os cines Voga e Casablanca exibiam tela panorâmica. Ufa! Sem falar do Orfeão da Universidade de Coimbra, que veio cantar no Teatro Municipal. Sei não, mas acho que a Bosch também é de 1954.

Esses que “nasceram naquele tempo” são alunos da turma de 1972 do Colégio “Culto à Ciência”, que este ano completam meio século de vida. Vão até fazer uma festa, no dia quatro de setembro, para comemorar a idade do ouro sem nunca ficar idoso. Afinal, para quem passou por aquele templo, o sonho não acaba e o tempo não passa. (Quer ver? Todo santo dia, de repente, nos vem à lembrança algum momento vivido ali? Adivinhei? Não adianta. Acontece com todos nós.). A Cecília de Castro Silveira Gutierrez
manda avisar que a turma de 72 é a mesma do Geraldo Trinca e do Cheda, doutorados em cerveja. E pede a todos daqueles bons tempos que queiram festejar para  ligar no (11) 2125-0042 ou no (19) 3206-1110.

Quando eles se formaram, vivíamos os “anos de chumbo”. A Lagoa do Taquaral recebeu a Caravela; o bairro do Botafogo ganhou a Rodoviária que ainda está lá; Quércia estava no último ano de mandato e elegeu Lauro Péricles sucessor; dom Antônio Maria Alves de Siqueira era o arcebispo; Zeferino Vaz regia a Unicamp e Barreto Fonseca, a Universidade Católica. A imprensa estava calada: não podia contar a guerrilha do Araguaia e só fazer poucas referências elogiosas à querida Leila Diniz, que partira de vez. Mas o consumismo podia exaltar: chegavam ao mercado o primeiro videogame e o tênis da Nike.

Pregado no poste: “Mestre Stucchi, mostre o que é estar em forma do para esses moleques cinqüentões!

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