Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2002

Fizeram história

— Como vai a Legislatura, doutor Mário?
— Pior do que a passada e bem melhor do que a próxima…
Dessa forma, irônica, mas verdadeira, mestre Mário Erbolato, jornalista dos grandes e secretário da Câmara Municipal de Campinas por muitos anos, costumava definir a conduta dos vereadores desta terra. Não é de hoje que eles são “ruins de serviço”. Todo cidadão sabe disso, mas a cada ano, a população tem de pagar a cada um deles R$ 1 milhão, para sustentá-los. Isso é cruel.
Dia desses, assistindo a uma sessão hipotética naquela que deveria ser uma “casa de leis”, junto a homens de bem que lá vão de espírito desarmado e paciência inesgotável, ouvi comentários de todo tipo, sobre o desempenho deles.
“São todos uns pernas-de-pau”, concluiu um técnico de futebol.
“Se em vez de instituição pública, fosse uma privada, a Câmara teria posto todos eles no olho da rua”, garantiu um privatista convicto.
“Desse mato não sai coelho”, desconfiou um caçador.
“Quanto eles custam?! Um milhão por ano cada um?! Isso não é relação custo-benefício, é custo-malefício!”, observou a estagiária de administração de empresas da Puccamp.
“Tão pensando que o dinheiro do meu IPTU é capim?”, esbravejou uma doméstica, vermelha de raiva.
“Há quanto tempo eles estão em greve?”, quis saber um militante da CUT.
“São como tiririca: toda cidade tem e ninguém sabe para que servem”, comparou um vendedor de herbicida.
“Se forem cassados, o Ibama nem multa…”, instigou um manifestante do Greenpeace.
“Ator é o homem que sabe fingir. Vereador e vereator são sinônimos?”,
perguntou uma veneranda senhora que fazia palavras cruzadas.
“Ainda morro de vergonha!”, lamentou seo Rosa Jequitibá.
“Pai, não perdoe! Eles sabem o que fazem!”, confundiu-se um ator de verdade, que ensaiava o Sermão da Paixão.
“Se cobrir, é circo; se cercar, vira hospício”, ironizou um humorista maldoso.
“Credo em cruz!”, benzeu-se uma freirinha bondosa.
E saber que por essa mesma Câmara passaram, entre outros, José Paulino Nogueira, José de Souza Campos, Antônio Pompeu de Camargo, Bernardo José de Sampaio, Joaquim, Cândido Gomide, Júlio de Mesquita, Ricardo Gumbleton Daunt, Joaquim Egydio de Souza Aranha, Antônio Lobo, Antônio Carlos do Amaral Lapa, Tomás Alves, Orosimbo Maia, Ângelo Simões, Alberto Sarmento, Álvaro Ribeiro, Sylvino de Godoy, Rafael Duarte, Heitor Penteado, Pedro Anderson, Paulo Decourt, Aníbal Freitas, Adalberto Maia, Armando Rocha Brito, Benedito da Cunha Campos, Ernesto Kuhlmannn, Horácio Antônio da Costa, José Pires Neto, Penido Burnier, Francisco Ribeiro Sampaio, João Lech Jr., Nelson Omegna, Sílvia Simões Magro, Miguel Cury…
Esses fizeram história e não ganhavam nada. Só a cidade ganhou com eles.

 

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