Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2006Crônicas

Fim da cinelândia

Ainda bem que não virou caça-níquel com bilheteria na porta a um dízimo o ingresso. Terça-feira, o centro da cidade assistiu à última exibição de filminhos de sacanagem, acontecida justo num prédio da Santa Casa de Misericórdia (Misericórdia!), que cobra aluguel de R$ 18 mil dos exibidores. Acabou o Cine Windsor, após cinco anos vividos da edificante indústria cinematográfica, digo, pornográfica.

Com ele, foi-se a última casa da “Cinelândia Campineira”, a Rua Regente Feijó, caminho dos cines Rádio, depois Brasília, depois Bristol, depois… Do Cine Regente, antes boliche do Campinas Bowling Clube; em seguida, o Windsor e, lá no fim, o Santa Maria (também da Santa Casa), depois Alvorada. O Cine Rádio, que abrigava a Rádio PRC-9, virou Brasília na inauguração da nova Capital, como o Santa Maria, tornado Alvorada por isso mesmo.

Lindão, mesmo, era o Windsor, igual ao de São Paulo, na Avenida Ipiranga. Às 20 e às 22 horas, porteiros fardados, como baronetes, não deixavam os homens entrar sem paletó. Imagine! Eram três: dois para recolher os bilhetes e o que vigiava a fatiota dos homens usava um contador manual, acionado a cada espectador que entrava – para evitar superlotação. O incrível soldado Alita (grande Alita!), da Polícia Rodoviária, emprestava a engenhoca para medir o movimento na Anhangüera.

Ao fim de cada sessão, entrava a gravação do querido locutor da Rádio Cultura Geraldo Sussolini: “Atenção, atenção! Solicitamos a gentileza de não acenderem seus cigarros aqui na platéia. A gerência agradece a sua colaboração.” Saudade.

O Windsor lançou “Cassino Royale”, com Peter Sellers vivendo James Bond, e Woody Allen, como Jimmy Bond; “Uma rosa para todos”, com Cláudia Cardinale; “A pantera cor-de-rosa”, com o mesmo Sellers, e vários filmes de Elvis Presley – um deles na mesma noite em que o Ouro Verde estreava “Os reis do ié-ié”, dos Beatles. Naquela noite, Elvis ganhou.

O primeiro arranhão pornô veio com “Emanuelle Tropical”, farsa para se aproveitar da “Emanuelle”, de Sylvia Kristel, lá em 1977. Pouco antes, o produtor J. Dávila convidou um grupo para uma sessão especial, sem cortes, ainda não visto pela censura: Ney Latorraca, Roberto Bolant, Selma Egrei em uma avant-première do que viria a matar o Windsor. (Pensei em dar a esta crônica o título de “Coito interrompido”, mas o Renato Otranto me aconselhou a assim definir a agonia do belo cinema no final.)

Pregado no poste: “O Guarani perde até quando não joga”

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