Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Faz-de-conta

Cá estou eu de volta escrevendo para “velhos”, como insiste aquela figura misteriosa que me manda e-mail e não assina. Não resisto. Outro dia, chegou um jornal atrasado, dando conta de que seo Pagano quer estimular o turismo em Campinas. O senhor aceita sugestão para um roteiro, prefeito? Não sei como o senhor vai fazer para esconder deles os buracos nas calçadas, as crateras do asfalto, a sujeira das ruas, o trânsito amalucado, os servidores municipais em pé de guerra e de greve, seus perueiros atazanando a vida dos campineiros… Esse problema é seu. Não pediu para ser prefeito? Assuma.

Campinas é uma das poucas cidades do Brasil com nome ligado à natureza, como o próprio País, talvez único do mundo com nome de árvore. Se bem que o pau-brasil está acabando, assim como o Brasil… Mas saindo do Brasil e voltando a Campinas, seo Pagano, vamos então mostrar aos turistas nossas árvores mais significativas. Faz de conta que o senhor é guia de um grupo que acabou de chegar de Pelotas. Só coincidência, prefeito; deixe esse risinho maroto pra lá. (Para descontrair, conte a eles a última: dizem que a Tiazinha de Campinas e de Pelotas é o Zorro…). Gostou? Se alguém achar ruim, diga que foi o Maluf que inventou.

O senhor deve mostrar as árvores que há anos enfeitam a praça em volta do Castelo. Uma grande obra do prefeito em benefício dos cidadãos. Depois, leve os pelotenses para conversar com seo Rosa, aquele jequitibá que viu nossa cidade nascer. E morreu de desgosto. No caminho, há as palmeiras da Avenida Brasil e as paineiras da Orosimbo Maia, estas, devidamente tombadas, ou seja, caídas. Pelo menos, é assim que a “tchurma” da CPFL parece entender a palavra “tombar”. A gauchada também gostará de conhecer as árvores que enfeitam e dão sombra a quem for passear pelo novo calçadão. Por último, seo Pagano, antes de começar o outro roteiro, estufe o peito e aponte com orgulho para o Alecrim de Campinas, ali bem na frente da Catedral. Tenho certeza de que a gente de Pelotas ficará deslumbrada. Até vão querer tirar fotos daquele belo alecrim.

Já que pela Treze de Maio o tráfego de trombadinhas e o tráfico andam muito perigosos, arrisque subir pela Costa Aguiar. E quando chegar atrás da Catedral, exiba outra grande atração turística de Campinas: o Teatro Municipal Carlos Gomes. (Sei que o senhor não tem nada com isso, mas é a segunda vez que vossa excelência está na prefeitura e a terra de Carlos Gomes continua sem teatro. Falar nisso, avise ao seu vice que se ele assumir o cargo de novo, não derrube o monumento ao maestro para alargar o calçadão que ele inventou.). Ah! Não se esqueça, querido prefeito, de levar os de Pelotas para rezar na Igreja do Rosário. Como? Já se esqueceu? Na Francisco Glicério, na frente do Palácio da Justiça. Isso!

Agora, entre com o grupo em nosso templo maior. Cuidado, se o padre-maior estiver lá, não toque no assunto do alecrim com ele. Deixe que os turistas se encantem com nossa Matriz, porque ela é, mesmo, maravilhosa. Para o padre Geraldo não ficar com ciúme, é claro que o nosso prefeito apresentará aos ilustres visitantes à Matriz Velha, a Basílica do Carmo, onde Campinas nasceu. (Não me vá brigar com o padre outra vez, na frente dos gaúchos, por causa daquela história do aborto, pelo amor de Deus!).

Pregado no poste: “Faça turismo virtual; visite Campinas”

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