Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

Falta do que fazer

Imagine um japonês sonhando ser cowboy. Você já viu um? Nem eu. Ou dona Izalene tentando ser prefeita de Campinas eleita pelo povo. A nossa humanitária Secretaria de Cultura, por exemplo, homenageando um democrata ou… Deixe pra lá. O Michel Jackson tentou deixar de ser negro e deu no que deu. Insuperável resposta do ex-jogador Pinheiro, do Fluminense, sobre racismo no futebol: “Eu que fui negro sei o que é isso!”… Ou a de um usineiro chamado José Pessoa de Queiroz Bisneto, que emprega índios, exibindo um vídeo sobre sua empresa: “Esse que vocês estão vendo aí é um ex-índio”!

Façanhas tão impossíveis quanto encontrar um ex-ponte-pretano, embora ex-bugrinos haja tantos pela vida, nesta vida de cair e não descer, desdenhando a subida honra e glória de se levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima — como os próprios ponte-pretanos fizeram tanto e ainda haverá tanto a fazer…

Agora, nos aparece um político (tinha de ser) propondo um programa de assistência à reorientação sexual, para apoiar quem quiser deixar de ser homossexual. Tudo bem: nos Estados Unidos, o Bush (Deus me livre!) anunciou seu apoio oficial a uma emenda constitucional para proibir o casamento entre homossexuais. Como dizia Juracy Magalhães, último tenente dos 18 do Forte de Copacabana, “o que é bom para os EUA é bom para o Brasil’. Afinal, eles não querem nosso bem, só os nossos bens.

A aberração saiu no (excelente) boletim ‘Consultor Jurídico’ dia desses. E resume os objetivos da proposta: “Auxílio e assistência especializada dos órgãos de saúde ao homossexual que desejar mudar de orientação; desenvolvimento de projetos e ações destinados à garantia da saúde sexual das pessoas atendidas; informação da sociedade sobre a prevenção, apoio e possibilidade de reorientação sexual.”

Um empresário capixaba estrilou: “Este deputado deve ter atirado pedra em Maria Madalena; cuspiu na Cruz; foi um dos que atearam fogo em Joana D’Arc ou um dos cardeais que julgaram Galileu. Participou de todos os grandes erros da história e não quis ficar fora deste… Desculpem, mas não consigo ser sério com uma proposta dessas.”. Um enfermeiro de Caieiras, também: “Ele presta um desserviço à comunidade, alimenta preconceito e exclui mais uma vez os homossexuais…”.

O jornalista Mário Policeno, aqui de Araçatuba, leu o absurdo e sugere: “Por que ele não propõe um serviço de reorientação para quem queira virar gay?” Pensei comigo: “Seria executado pelo Movimento Machista Mineiro; mas em algumas cidades mais ao Sul de Minas receberia o título de cidadão…”

Pregado no poste: “Mas o Lula não sabia de nada!!??”

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