Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Falta das torcidas

Nem pense em pedir ao Papai Noel um time de futebol para o Guarani e outro para a Ponte Preta. Torcedores não são bons meninos há tempos, portanto não merecem esse presente. Meu pai era torcedor, sócio, benemérito, conhecia todos os jogadores e diretores (jamais se meteu em assuntos da diretoria), ajudou a assentar tijolos na construção do Moisés Lucarelli, mas nem por isso tinha regalias. Fumava picadão. Num jogo contra o Corinthians, esqueceu o canivete de picar fumo no bolso do paletó e não o deixaram entrar no estádio. Jogou o canivete fora, torceu feito louco e a Ponte, como sempre, perdeu – derrotas faziam parte do acordo que levou a ‘Macaca’ para a divisão principal em 1951, com apoio do Corinthians, sem disputar o título do acesso. (Vá aos arquivos e conte as vitórias da ‘Nega Véia’ sobre o Coringuinha entre 1951 e 1960.)

Estranhou torcedor trajando paletó no jogo? Outro dia, a TV Cultura passou, n’Os grandes momentos do esporte, a final de Guarani e Batatais, em 1950. Difícil achar alguém em mangas de camisa naquele filme. E boa parte da platéia usava chapéu (está certo que mais da metade dos operários da fábrica do seo Miguel Cury era de bugrinos, incluindo jogadores: Pavuna, Piolim da Angelina… E para trabalhar no Cury, podia-se entrar até pelado, mas sem chapéu, jamais! Exagero.)

Quem briga de chapéu é cowboy – e o dito cujo não cai de jeito maneira. Quem gostava de brigar de paletó era o Bat Masterson e Os Intocáveis, atrás do Al Capone. Parece que chapéu e paletó deixam os homens mais contidos. Mas vieram a desgraça de 64, o capitalismo selvagem, a má distribuição de renda, o consumismo, a americanalhação dos hábitos, a violência exibida nos cinemas e na TV como meio de conquistar o desejado, a falta de respeito, o falso status da grife, o desprezo com o trabalhador…

Transformar o estádio de futebol em arena foi um pulo para estimular torcidas e crime organizados (políticos por trás). Muito ali enseja a violência, como o nome dos bandos: mancha verde, guerreiros da tribo, inferno verde, facção brasiliense, ira jovem, gato cruel, guerrilha jovem, sucuri mania, mancha negra, fla manguaça, falange rubro-negra, fúria jovem, terror alvi-rubro, bangang, pavilhão 9, estopim, fiel macabra, exército vermelho, lama verde, máfia sorocabana…

Não surpreende ver ponte-pretanos e bugrinos somados já serem menos do que corinthianos em Campinas, como mostrou o repórter Hnrique Nunes, domingo. Arriscar a vida no estádio para ver pernas de pau em campo?

Pregado no poste: “Papai Noel, dê um cartão vermelho para o futebol”

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