Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Extra! Do Catete ao asilo

Campinas tem dessas histórias. Muita gente importante junta dá nisso. Os pioneiros da gloriosa família Krug, a quem devemos a grandiosidade do Instituto Agronômico, do Colégio Rio Branco e do Colégio Culto à Ciência, tiveram uma escrava de nome Rosaura, que era filha de d. Pedro I, apesar da oposição da matriarca, que não aceitava a escravatura. Há uns quinze anos, um repórter de nome Wilson Marini, aqui do nosso “Correio Popular”, descobriu no Largo 13 de Maio, bairro de Santo Amaro, em São Paulo, um mendigo que vivia de catar papel velho e morava num porão. Era o ex-pugilista argentino Jack Marin, pai do governador de São Paulo na época, José Maria Marin.

Agora…

Ayla Farias, repórter do jornal “Bom Dia Rio Preto”, escreve uma reportagem que é um alerta aos campineiros:

Ela jura que descobriu, sem querer, que a nora do campineiro e ex-presidente da República, Campos Salles, Dulce Kusch, vive abandonada no Asilo Schmitt, em Rio Preto. Ela tinha ido àquele lar de velhinhos para noticiar que ele está prestes a ser fechado. A entidade é filantrópica, vive de caridade pública e ainda não sabe o que fazer com seus velhinhos, posto que quase todos são sem ninguém no mundo. Mas como boa repórter, aceitou a ponderação de não divulgar o fechamento, para não melindrar os idosos, mas conseguiu o direito de conversar com eles. Foi aí que viu Dulce e… Conte tudo Ayla:

“Guarda casacos de pele e fotos de uma vida rodeada de luxo e gente poderosa Dois casacos de vison são a ‘herança’ de uma vida. Os casacos estão no guarda-roupa da pequena casa que ocupa, há treze anos, na entidade. As peças saíram do armário ontem, para um banho de sol tirar o cheiro de mofo. São os únicos bens materiais que restam de um casamento feliz, uma vida bem-sucedida e confortável no Rio de Janeiro.

Os outros bens – verdadeiros amigos e vida feliz – ela adquiriu desde que veio para o asilo, aonde chegou em uma noite de Carnaval, em 1994. ‘O lugar estava alegre. Fiquei feliz desde a hora que pisei aqui’.

A chegada em noite de festa a ajudou esquecer os dias que passou sem saber o que faria, depois de deixar sua casa, na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro. Quando decidiu ir embora, transferiu os bens à filha Rosana Salles, então atriz da novela Tieta, com quem morava.

Foi para São Paulo com u’a mala. Perambulou dois dias pela rodoviária. “Estava pensando para onde ia”, diz, sorrindo ao lembrar das pessoas que a viram. “Uma moça de lá falou comigo. Contei o que tinha acontecido. Ela me deu água e lanche e procurou saber da minha vida”, diz. A funcionária a encaminhou para um abrigo da assistência social em São Paulo, onde ficou por dois meses.

O período sem lar se chocou com os anos da vida tranqüila ao lado do marido, Dagoberto Campos Salles, filho do ex-presidente da República Campos Salles. Morou em Paris, em Miami e rodou a Europa. Nas fotos, estão as viagens e os bailes luxuosos. Mas uma é especial: ‘Foi nesse dia que conheci meu amor, Dagoberto’, diz, mostrando a foto do famoso baile Night and Day, no Rio, ao qual foi sozinha com amigos.

Na outra preferida, está rodeada de pombos na praça São Marcos, em Veneza. ‘Eu passava e eles vinham atrás de mim. Os turistas me pediam para andar, para que pudessem fazer fotos’, conta.

Vaidosa, fazia questão de estar sempre com os vestidos da moda e sabia do poder de sua beleza. ‘Todo mundo me achava bonita. Eu me arrumava e era mesmo muito bonita.’

O marido morreu em um acidente de carro e, desde então, ela não teve mais namorado. ‘Fechei-me para os homens e vivi para minha filha’. A filha, fora da TV desde o fim da novela, se casou e mora em Toulouse, na França. A última vez que falou com a mãe foi por telefone, no ano passado.

‘Sei que fiz o melhor. A vida é para quem sabe ser feliz em qualquer lugar. Eu sei’, diz a mulher, que coleciona lembranças do passado em fotos e casacos, e o carinho dos amigos que conquistou.”.

Pregado no poste: “Está esperando o que dr. Hélio!?”

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