Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2000Crônicas

Ex-crianças

Quem conta é a Yu Ju Chung, a coreaninha mais simpática do Brasil: na terra dela, a televisão só entra no ar depois das cinco e meia da tarde, para que as crianças não se contaminem. (Aqui, o horário político não deveria entrar nunca, para não contaminar a Nação…). Na Suécia, é proibido comercial que vise crianças menores de doze anos. Na Dinamarca, anúncio para crianças só um minuto e meio após o fim de qualquer programa infantil. Na Bélgica, a restrição vai de cinco minutos antes e cinco depois. Na Grécia, é proibido anunciar brinquedos antes das dez da noite. Outros países atrasados, como Noruega, Holanda, Áustria e Irlanda, também limitam o marketing infantil. No Brasil, o país mais adiantado da história da Humanidade, o massacre é liberado.

Nem tudo está perdido. Em Campinas, uma guerreira solitária navega contra essa maré de imbecilidade.  É a professora (tinha de ser professora!) Ida Carneiro Martins, do Laboratório de Motricidade Humana, da Faculdade de Educação da Unicamp. Há anos ela pesquisa, para que não se percam na memória dos maus tempos, as brincadeiras de crianças – aquelas, que a nossa geração ainda pôde aproveitar nas ruas e nos quintais e a de hoje, se tentar, morre. Ruas são redutos de traficantes e quintais não existem mais. Árvores? Para conhecer uma, logo será preciso ir ao Bosque dos Jequitibás. E era no alto das árvores que se brincava de elevador; se pendurava o balanço de tábua ou de pneu – que delícia!; no tronco, se fazia o ‘pique’ que salvava do pegador…

Mestra Ida defende “mais brincadeiras, menos brinquedos”, principalmente porque os brinquedos de hoje fazem as crianças solitárias – os malditos joguinhos eletrônicos, que não fazem nem são amigos. “Afinal, amigo a gente não desliga”, ensina. Ainda é tempo, gente! Ensine seus filhos a pular corda; jogar queimada; passar anel; fazer telefone sem fio; brincar de ovo choco – tá rachado!; mãe da rua; pular sela; balança-caixão. Se cair e quebrar o braço, o gesso será uma lembrança melhor e mais gostosa do que a desse festival de cretinice pasteurizada da TV.

Pregado no poste: “Muito Lobato, nenhum Pokémon.”

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