Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1997Crônicas

Eu também!

O Brasil tem futuro — pelo menos nesse pedaço sagrado de chão incrustado no País. Quando meu amigo Marco Aurélio Matallo Pavani me contou, fiquei ansioso. Foi em junho, num rápido encontro aí na nossa Campinas. Ele me disse que estava em andamento uma pesquisa da Datacorp com estudantes colegiais da cidade. Otimista como eu, com os resultados ainda parciais, ele revelou que a meninada a caminho das universidades repudia os políticos. Não é ótimo isso? Enquanto os pais elegem certas coisas, os filhos, enxergando mais longe (e melhor), preferem dar as costas às essas coisas.

A foto do Jayme de Carvalho Júnior, que ilustra a reportagem da Silvana Guaiume sobre a pesquisa no Correio Popular Revista, é um colírio e alivia até a alma: um grupo de jovens vaiando e atirando bolas de papel num coitado fantasiado de freqüentador de palanque, microfone em punho, e, naturalmente, mentindo para a platéia. Noventa (90!!!) por cento dos jovens pesquisados disseram que não pretendem exercer cargo político algum no futuro.

O resultado é maravilhoso para o futuro do Brasil: 90% dos jovens pretendem ganhar a vida trabalhando, vivendo às próprias custas e não dos impostos que os políticos arrancam de quem trabalha. Eu radiante com essa moçada. O que me preocupa são aqueles oito por cento contaminados pelo oportunismo da vida fácil. Felizmente, por enquanto, o mau exemplo só contaminou a minoria.

O depoimento do estudante Thiago Penteado, de 18 anos, resume tudo: “Não há alternativa. Ou o político rouba ou se afasta da política“. A Silvana Guaiume emenda: “Ele não deposita confiança nem mesmo nos colegas de entidades estudantis ligadas a movimentos políticos”. O Thiago conclui: “É tudo baderna. Se esse pessoal chegar ao poder, vai acabar se corrompendo como todos os políticos”. O Thiago não condena ninguém. Nos dois casos, ele só alerta, com base nas condições do País em que os políticos o obrigam a viver.

A constatação passada pela reportagem resulta da ação perpetrada diariamente pelos políticos contra a Nação: “Descrentes da política praticada hoje no País, os alunos não conseguem enxergar melhorias. Ao contrário, temem a aproximação com as atividades legislativa e executiva, porque acreditam que mesmo os honestos são corrompidos assim que adentram a arena política. Os jovens associam a imagem dos órgãos políticos à de um cartel”.

Positivo nisso tudo é ver que quando o futuro parece perdido, os jovens (de Campinas, pelo menos) manifestam seus sentimentos de forma decidida, repudiando, quase unânimes, uma classe (ou casta?) que, decididamente, não representa absolutamente ninguém que tenha um pingo de lucidez e bom senso.

Tenho absoluta certeza de que se os vencimentos de um cargo eletivo for reduzido a um décimo do que consome hoje (e já seria demais), quase todos os candidatos desistiriam da candidatura — provando que, como está, a carreira política não é missão, mas apenas um negócio.

Essa meninada posa de alienada, insegura, inconseqüente, virada pra lua, mas na hora de escolher os caminhos da vida demonstram uma seriedade ímpar. Eles podem estar em dúvida sobre que carreira a seguir, mas revelam a mais nobre das certezas — aquela que jamais seguirão.

Senhores pais, nas próximas eleições, invertam os papéis e peçam um conselho aos seus filhos.

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