Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

1999Crônicas

Eu acredito

Eu acredito: a polícia não tem nada a ver com o sumiço de 340 quilos de cocaína pura do Instituto Médico Legal. Afinal, os policiais são honestos e não manchariam sua reputação por causa de US$ 1 milhão.

Eu acredito: uma montadora de veículos não tem, mesmo, recursos para readmitir milhares de funcionários que desemprega. Afinal, quem gasta US$ 6,4 bilhões na compra de outra montadora não tem como remunerar operários brasileiros jogados na rua. Só se o governo baixar os impostos, eles voltarão ao trabalho. Com menos impostos, o povo paga para a montadora desempregadora dar empregos.

Eu acredito, também que isso não seja pressão da indústria em cima do governo brasileiro, porque eu acredito que o governo brasileiro não se verga às pressões de grupos poderosos.

Eu acredito: as autoridades brasileiras não cederam à pressão do “lobby” dos seqüestradores do empresário Abílio Diniz. Eu acredito, sim, que o que eles cometeram não foi um crime hediondo. Eu acredito em crime político.

Eu acredito: os fabricantes dos estojos de primeiros socorros não tiveram benefícios com a lei que nos obriga a levar aquela parafernália no porta-luvas. E eu acredito: aquilo é útil, sim.

Eu acredito: não há interesse de políticos por trás dessas manifestações de “perueiros” que infernizam a vida de Campinas.

Eu acredito: não existe ação de políticos, quando camelôs se rebelam contra a legislação que disciplina o comércio clandestino, desculpe, informal, em Campinas.

Eu acredito: fiscais de todas as prefeituras jamais aceitaram propinas de quem quer que seja.

Eu acredito: todos os empresários jamais sonegaram impostos.

Eu acredito: os sem-terra nunca foram manipulados por interesses ideológicos.

Eu acredito: os fabricantes dessas pequenas motos (scooters) não pressionaram as autoridades até conseguir autorização para que elas sejam pilotadas por maiores de 14 anos.

Eu acredito: não há influência de patrocinadores nas competições esportivas. E eu acredito: a CBF não marca compromissos da Seleção Brasileira por causa de interesses de seus patrocinadores.

Eu acredito: todos estão satisfeitos com essa decisão da Prefeitura de cobrar taxa pelo uso de elevadores e escadas rolantes em Campinas.

Eu acredito: todos ficaram contentes com a derrubada do velho alecrim da frente da Catedral, principalmente os turistas, que agora podem fotografar a Matriz à vontade.

Eu acredito: não houve omissão da Prefeitura no episódio da morte do Seo Rosa, nosso Jequitibá, primeiro cidadão campineiro.

Eu acredito: o interesse de nenhuma multinacional de petróleo não é capaz de comandar a Petrobrás.

Eu acredito: tudo o que é bom para o tal de Fundo Monetário Internacional (FMI) é bom para o Brasil.

Eu acredito: a polícia nada tenha a ver com esta história — vinte (vinte!) assaltantes, às seis da tarde, em pleno centro de Ribeirão Preto, colocaram 17 (dezessete!) funcionários do Banco do Brasil dentro de carros no pátio de estacionamento da agência e levaram todos como reféns para uma chácara na periferia da cidade. Quando o dia amanheceu, quatro dos reféns foram levados de volta à agência, abriram os cofres e os bandidos roubaram R$ 10 milhões. Nem os apelos de parentes de funcionários da mesma agência, preocupados com sua ausência, fizeram a polícia desconfiar de que “poderia” estar havendo algo contra o Banco do Brasil. Eu acredito: ela não tinha de que desconfiar.

            Pregado no poste: “Eu só não acredito em Papai Noel”

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