Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Eterna colônia

Depois, começam a escrever general com “J” e não sei o que lá com dois ‘S’. Passei domingo por um baita anúncio de rua (outdoor), que diz: “Curso de inglês para crianças a partir dos três anos”. (Tenho certeza de que “outdoor” você sabe o que é, mas para entender “anúncio de rua”, você já vacila.). No Brasil, onde se devia falar Português, você já viu alguma propaganda, por menor que seja, anunciando curso de Português para crianças a partir dos três anos? Eu nunca vi e acho que logo, logo, não haverá mais aula de Português, por falta de quem saiba ensinar.

(Primeiro motivo: qual é o salário de um professor, mesmo? E de um político? Você paga os dois, mas a existência do segundo é culpada da extinção do primeiro.)

Por isso, um aluno perguntou a uma professora que declamava “A última flor do Lácio”, o que significa “flor”. (Devo admitir, tristemente, que neste computador, a palavra ‘outdoor’ não aparece sublinhada em vermelho, indicativo de que está com a grafia errada. Mas, não se assuste, a palavra “Lácio”, da qual nosso idiota, digo, idioma, é a última flor, está assinalada em linha rubra. Esta nação já é o esgoto do mundo, e a céu aberto, por descaso de seus governantes. Até a língua, identidade do povo, jaz estuprada por “pais da pátria” que se dirigem aos compatriotas falando “menas”. (Em breve, bajuladores tirarão a linha vermelha debaixo de ‘menas’), para não constranger aqueles que nos constrangem. A culpa não é dele não, só dos que o manipulam. Ele mesmo confessa que não sabe de nada. Nem ele nem seus eleitores. Hitler também foi eleito pelo povo, também com um José por trás, o Joseph Goebels.

Assim, proliferam os “tipo assim”, “com certeza”, “galera”, “cara”, “é isso aí”, “a nível de”, “já viu, né?”, “essa coisa”, “até que ponto?”, “demorou”, “planos para o futuro”, “sorriso nos lábios” e outros “pobremas”. Sen falar no gerúndio de quem traduz inglês ao pé da letra ou mergulhou no telemarketing e não teve sorte de estudar a língua da matriz desde os três anos.

Dedico esta crônica aos meus professores de Português, Latim e Grego Clélia Pires Barbosa, Carlos Zink, Lílian Nopper, Lydia Helwig, Walter Zink, Maria de Lourdes Ramos, Quinita Ribeiro Sampaio, Zilda Rubinski, José Alexandre dos Santos Ribeiro, Regina Estela Guido Rossi, Maria José Biagio, Elen de Freitas, Mário Scolari… Insuperáveis, inesquecíveis, cada um em seu altar, todos no coração.

Pregado no poste: “Sem freios, você vai mais longe”

 

 

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