Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Esses italianos…

(O Dicionário Houaiss diz que ‘ginga’ é “remo que se usa à popa de embarcação para movimentá-la alternadamente por bombordo e por boreste”. Prefiro a ginga do Garrincha.)

Cena parecida ainda acontecerá na Lagoa do Taquaral. Tudo depende da criatividade e cara-de-pau de algum gaiato. Tem tempo, numa manhã de Finados, lá no Cemitério da Consolação, um grupo de uns vinte velhinhos, já bem velhinhos, gesticulava adoidado, quase prontos para sair a bengaladas, embora todos trouxessem espada na cinta, mas sem ginete na mão.

Vestidos a caráter, alabardas, capelo aureolado, luvas, capas, botas… Eram os “alpini”, da companhia nascida em 1872, no Norte da Itália, ao comando do “capitano” Giuseppe Domenico Perucchetti. A facção oposta era dos “bersaglieri” — criados em 1836, o uniforme muito parecido com o dos nossos bandeirantes, do século 17, mas com polainas sobre as botas. Lutaram uns contra os outros na Primeira Guerra e o que se via era um encontro dos veteranos, que voltaram ao Brasil, findo o conflito. De longe, ali no cemitério, autêntica ala de escola de samba. De perto, encenavam uma batalha corpo a corpo da Primeira Guerra Mundial.

Incrível aquilo. Só no Brasil. O mais divertido contou: “Embarcamos juntos para a Europa, partindo da Estação da Luz, rumo a Santos. Parecia uma confraternização; ninguém dizia que estávamos prontos para nos matar na Itália. Nossas famílias trouxeram comida para a gente levar. Tinha cantoria. Estourou até uma briga e dois de cada lado morreram antes de entrar no trem… Pode procurar “in tuo giornale”, que a notícia está lá. (Está.) Terminada a cerimônia na Consolação, foram todos para uma galinhada na chácara de um deles em Valinhos.

Encenar é com os italianos, mesmo. O Caetano Biagi, engenheiro amigo aqui de Ribeirão Preto, conta que parentes que vivem na Itália, certa vez, juntaram uma meia dúzia de brincalhões, vestiram-se de bombeiros e seguiram para a torre de Pisa. Fazem sempre isso. Lá passaram a segurar a torre e a pedir socorro aos turistas, “perché” ela está caindo! E os turistas correram para salvar aquele patrimônio da humanidade. Depois de formada a multidão de “heróis”, eles se afastam e se divertem com o desespero e o esforço dos outros.

Aqui, é só reunir um grupo de amigos a bordo da caravela e gritar que ela está afundando. Mas sabe o que pode acontecer? Nada.

Pregado no poste: “Quem planta seus males espanta”

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