Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

Esses comunistas são uns masoquistas

Anotações do caderninho da viajem do jornalista Cláudio Mafra à Coréia do Norte:

“É proibida a entrada de jornalistas sem ordem do governo. Embarco no avião russo, caindo aos pedaços, da Air Koryo. Pela janela, a primeira visão é a de um espaço desolador. As estradas chamam a atenção pela ausência de veículos. Neste feroz regime stalinista, o seqüestro, a tortura, a morte ou o confinamento em campos de concentração são rotina. Não vá a lugar algum sem que um dos guias esteja com você. Só fotografe estando fora do carro e com a permissão deles. Não fale com ninguém na rua.

O falecido Grande Líder Kim Il-sung também é o ‘Sol Vermelho dos Povos Oprimidos’, o ‘Sempre Vitorioso Brilhante Comandante’, o ‘Sol da Humanidade’, o ‘Eterno Presidente’. Seu aniversário, 15 de abril, é o ‘Dia de Natal’ da Coréia do Norte. O filho, Kim Jong-il, é o ‘Querido Líder’, o ‘Grande General’, ‘Centro do Partido’, ‘Respeitado Líder’, ‘Supremo Comandante’, ‘Pai do Povo’, ‘Pai da Nação’, ‘Líder do Século 21’.

Há poucos carros, nenhum comércio, e o silêncio perturba. Escoltado, vou jantar; a escuridão nas ruas é completa.

No café da manhã, a guia pergunta por que eu havia me levantado três vezes durante a noite. Vejo uma velhinha caminhando em farrapos, a imagem do desamparo; não resisto e fotografo. O guia grita: ‘No!’. Vejo-o advertido por um homem saído do nada. Tive de entregar o filme.

Dezenas de meninos, entre 10 e 13 anos, uniformizados, cabeças rapadas, arrogantes, olham para mim de alto a baixo. São os pequenos guerreiros, cadetes da escola militar. Orgulhosa, a guia diz que os americanos e os sul-coreanos têm medo deles.

Nos filmes da TV não aparecem os nomes dos atores, diretores, nenhum crédito. A vida é a sobrevivência do dia-a-dia. Entre 1995 e 1998, centenas de milhares de norte-coreanos morreram de fome. O ‘Querido Líder’ parece o único gordo da Coréia do Norte. É horrível ver as pessoas a vagar pelas ruas, cabisbaixas, tão magras, silenciosas. Há tristeza em seus poucos gestos. Na sala de espera do aeroporto, um brasileiro conta que, passeando em Pyongyang, distanciou-se do guia e ouviu a reprimenda: ‘Se o senhor for seqüestrado, a culpa não é minha!’”

Dona Izalene e sua turma homenagearam Stalin em Campinas e fizeram o povo inteiro pagar!

Pregado no poste: “O pomar do stalinismo não dá bons frutos”

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