Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Esperança na Vila

Está certo que a cantina do Alo, no Colégio Culto à Ciência, foi um paraíso – para o estômago e para a cabeça. Amigo, conselheiro (às vezes, cúmplice) dos alunos. Gostava de nós. Mas naquele templo, havia outro ponto de encontro, tão agradável quanto aquele bar. Além do pátio, depois da mistura delas com eles; do ginásio de esportes, para fumar escondido ou ver as meninas de shorts (enorrrmes) na ginástica; debaixo da escada do porão, onde dona Gladys carimbava cadernetas e nem via casais namorando no escurinho (será que não via, Abigail?); do imenso campo de futebol, medido com palitos de fósforo por calouros…

O outro lugar mágico da escola era a biblioteca: templo, altar, confessionário e território sagrado da dona Otávia Maia. Elas nos socorria nas tarefas deixadas para a última hora; na pesquisa, para fazermos o melhor trabalho; na leitura correta dos poemas de Camões, para decorarmos e fazer bonito para o professor Alexandre e a dona Zilda; da conversa gostosa sobre a Campinas de antanho… Dona Otávia sabia tudo, sobre todas as matérias. Parecia ter sido professora de todos os nossos professores, tamanha sua sabedoria.

Pensei que depois dela, nunca mais existiria uma biblioteca e uma bibliotecária como a nossa. Mas na Vila Industrial (sempre a querida Vila!) há um rasgo de esperança, na doce figura da bibliotecária Jandimar Corrêa Farhat. Ela desafia estes tempos globalizados de lanchonetes e faz da biblioteca do Colégio Renovatus o quartel general dos jovens. Resgatou a meninada seqüestrada pelos falsos prazeres de sanduíches de plástico e refrigerantes de tinta e colocou-os no caminho do melhor prazer: a leitura. Realizou a façanha de tornar a biblioteca da escola um lugar mais freqüentado do que a lanchonete! Verdadeiro milagre brasileiro.

Já que não existe Prêmio Nobel para bibliotecárias, que todos os ganhadores do Nobel de Literatura dediquem uma parte do prêmio a elas, como essa heroína nestes tempos de nenhum interesse pela leitura. Parabéns, Jandimar! É um prazer conhecê-la, tão grande quanto o prazer de ler.

Pregado no poste: “Quem lê vale mais”

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