Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

Espanto

Esta é a história do diálogo entre um prefeito corrupto (já foi até corrupto federal!) e um empresário honesto; ou entre a competência e a mediocridade. Foi num almoço, semana passada, e todo estava muito bom, até que o prefeito chegou. Sabe quando a comida parece que se estraga de repente? Quando a conversa animada vira quase silêncio – só porque chegou um político, todo mundo acha que só ele pode falar. E político não sabe conversar, quando vê mais de duas pessoas à sua frente. Começa a fazer discurso automaticamente.. Quem for um pouquinho inteligente, perceberá que é só besteira.

Pois o prefeito chegou, a animação foi esfriando, ele falou uma bobagem aqui, outra ali, pensou que o silêncio fosse de atenção à sua pessoa e desembestou. O empresário, do alto de seus 80 anos de idade e 69 de trabalho, sempre dedicados à agricultura, interrompeu em cima do laço: “Um homem público não pode mentir!” O político ficou verde. Como só mente, pensou que tivesse dito alguma mentira.

Foi salvo por uma jovenzinha de seus 20 e poucos, que chegou e se aconchegou ao lado do político. Diante da quase pedófila diferença de idade entre eles, um assessor, antes que alguém fizesse uma pergunta inconveniente, apressou-se e disse a todos os de fora: “Ela é nossa primeira-dama… Eles se casaram, em dezembro. Estão em lua-de-mel…”, acrescentou o puxa-saco de prontidão. O prefeito engatou logo seu assunto preferido:

— Então, o senhor acha se sua fábrica começar a produzir no ano que vem, já poderá pagar impostos?

— É, mas este ano, ela já dá empregos, paga em dia, tem um refeitório melhor do que este restaurante, os funcionários e as famílias recebem atendimento médico de graça e escola grátis para os filhos. Já fazemos nossa parte. Mas aquela ponte, para passar a produção, que o senhor prometeu reformar, continua abandonada…

— O senhor pode ficar tranqüilo, que a verba vai sair logo. Sabe, é muito dinheiro, R$ 120 mil…

— Quanto!? R$ 120 mil!? Ficou doido? Eu faço uma nova pela metade!

Enquanto o corrupto pensava “Será que ele percebeu que a ponte está superfaturada?”, o empresário emendou:

— Pelo que eu entendi, essa menina… Espere aí! O senhor está em lua-de-mel com a sua neta!?

Pregado no poste: “Essa câmara não dá nem pra recauchutar”

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