Então, quem foi?
Parece que não foi nada daquilo que a polícia suspeitou na época e não conseguiu descobrir patavina. Foi há 35 anos. Como se vê, não é de hoje que a polícia de Campinas investiga e não encontra os bandidos. Sobrou para a honra da vítima, que virou suspeita para sempre.
Naquela manhã de domingo, o inesquecível radialista Sérgio Batista interrompeu a apresentação do programa “Degraus do Sucesso”, na Rádio Cultura, e, depois do gongo agourento, anunciou (Nossa, parece que foi hoje!): “Vítima de lamentável acidente, faleceu nesta madrugada no Colégio Culto à Ciência, o senhor Otacílio Ferreira da Silva…” Puts! Corri para a escola.
Encontrei seo Renato, um dos nossos inspetores de alunos, perto da sala de Química, do professor Basílio. Estava ali, para não deixar que estudantes chegassem à entrada principal e vissem a cena final do crime. Seo Otacílio era o zelador do nosso colégio. Homem educadíssimo, sério – antes tinha sido auxiliar do professor Stucchi, de Educação Física.
Atiraram no seo Otacílio na sala dele, perto da escada que nos levava á Diretoria, onde havia o telefone para uso dos alunos. Levou outro tiro no peito, arrastou-se até a porta e caiu nos degraus que protegem a pedra fundamental do colégio. Seo Renato falou baixinho:
— Mataram o Otacílio, ontem à noite, ali na porta!
— Ontem á noite? Mas ontem à noite eu vi o seo Otacílio passar nesse jardim aí da Rua Delfino Cintra, acompanhado de um homem baixinho e careca… Pareciam vir para cá…
— Então, você fica quieto, porque se a polícia sabe que você viu ele (sic) ontem à noite, vai aporrinhar, mesmo sabendo que você é menor de idade.
Foi um escândalo, logo abafado. Acusaram o Otacílio de receber mulheres durante a madrugada na escola, que tinha sido um crime passional, o diabo. Certo, mesmo, é que a polícia, claro, não descobriu nada.
Agora, um telefonema anônimo de alguém que, juro, infelizmente, não consegui identificar, falou rápido e desligou:
— Você que estudou no “Culto à Ciência” deve lembrar-se do Otacílio e de como ele morreu. Pois é, não tem nada daquela história de briga por causa de mulher, não. Você se lembra disso, né? A história é outra, preste atenção: o colégio foi invadido por gente interessada em encontrar provas na sala dos professores. O Otacílio reagiu e foi baleado. Tchau…
Pregado no poste: “Ciro, Roseana, Lula, Serra, Tasso, Pratini, Enéas… Socooorrrrooo!!!”