Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Enquanto uns…, outros…

“Desemprego é o menor em 10 meses (!?) Nível cai para 7,7% em setembro, diz IBGE”. Junte 100 adultos e corto o sapo se você não encontrar muito mais de 23 desempregados. Desde que quando aquele tal de Zé Dirceu exigiu “ver” as pesquisas do IBGE antes da divulgação, não acredito nesse instituto. Agora, veja o que acontece no Rio de Janeiro — se Campinas fizer o mesmo, o mesmo quadro trágico se revelará: “Concurso público para escolher 1.400 garis já atraiu 45 candidatos com doutorado, 22 com mestrado, 1.026 com superior completo e 3.180 com superior incompleto”, diz a estatal do lixo daquela cidade. Para participar, basta ter concluído a quarta série do primário.

Na outra banda podre, o governo enviará ao Congresso proposta que não deixa a polícia prender traficante que vende pouca droga. Você leu direito, sim. Afinal, nesta história, o analfabeto não é você. Isso é parte do preço cobrado pelos bandidos para uma trégua durante a Copa do Mundo e a Olimpíada? Na base do “Mano, nóish não mata, mash tu faicilita pra nóish, falô?” Foi mais ou menos assim nos Jogos Panamericanos?

Enquanto a estatal do lixo não aproveita os doutores, mestres e universitário formados para melhorar o padrão de atendimento público do Rio de Janeiro, dois episódios que servem de exemplo de como lidar com o ser humano. É que enquanto uns pregam responsabilidade social, outros praticam.

Anos atrás, em Sertãozinho, o empresário Maurílio Biagi Filho, então presidente da exemplar Companhia Energética Santa Elisa, descobriu que entre os cortadores de cana de sua empresa, um havia entrado na faculdade – curso de análise de sistemas. Outros dedicavam parte da jornada se aperfeiçoando em outras áreas, para não perderem emprego para a máquina de colher cana. Aquele foi imediatamente admitido no setor de informática da usina, outros, gradativamente, deixavam as lavouras para as máquinas, porque “cortar cana não é trabalho de gente”, diz Maurílio.

Em Serrana, perto dali, há décadas a Usina da Pedra, com o mesmo propósito de dignificar a vida dos jovens em vez de deixá-los na rua, já profissionalizou centenas de meninos, alguns já aposentados. É terminar o colegial e entrar na empresa. Pela manhã, ‘brincando’ nas máquinas, tratores, laboratórios. À tarde, cursos técnicos, até de mecatrônica (nem sei o que é isso), e à noite, inglês e informática. Foram salvos.

Enquanto isso, o governo quer facilitar a venda de drogas para o seu filho.

Pregado no poste: “Chega de intermediários, Fernandinho Beira Mar para presidente?”

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