Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

“Embaixaria”

Não sei se é verdade: diz o IBGE que a grande massa dos homicídios é cometida por homens entre 17 e 30 anos. Há algum tempo, um médico constatou que 17 horas e 22 minutos é o momento em que mais acontecem crimes de morte no Brasil. As duas pesquisas devem ter lá sua utilidade. Por via das dúvidas, se você passou dos 30 ou não chegou aos 17, a chance de ser assassino é menor. Resta fugir de quem estiver entre os 17 e os 30, para não morrer. Mas pode apostar: vai aparecer político radical sugerindo prender quem esta nessa faixa – sem pensar que se seu projeto for aprovado, a idade máxima da liberdade no Brasil será antes ou depois. E ele argumentará: “Ótimo! Seremos um país eternamente jovem.”. Não exagero: numa cidade ao lado, um vereador propôs revogar a lei da gravidade, para evitar a queda da caixa d’água. Outro, em São Paulo, sugeriu realizar a Bienal todo ano. E se o carcereiro do futuro exigir que os relógios saltem das 17h21 para as 17h23. Aqui, um edil quis estabelecer a grossura mínima da massa da pizza nos restaurantes.

Estava nessa conversa quando a repórter Luciana Félix chegou para contar que a Polícia Federal abrirá uma delegacia no aeroporto de Viracopos, para fiscalizar a imigração. Vamos torcer para que sejam iguais aos seus colegas do Deops do tempo da ditadura militar. Estranho? Eram policiais de primeira linha, cultos, falavam dois ou três idiomas, tinham respeito humano e profissional por todos – em tudo diferentes dos gorilas de outras praças. Claro, até hoje não é possível citar nomes. Mas jamais a imprensa foi deixada de lado e – acredite – nem precisávamos de repórter setorista no aeroporto. Os próprios delegados nos ligavam no trabalho ou em casa, a qualquer hora, dia ou noite.

Permitiam que circulássemos por toda a parte: pista, alfândega, torre… Imagine naqueles anos sujos, um delegado do Deops ligando no começo da madrugada para avisar: “Vá para o aeroporto. Suspeita de bomba num jato da Swisssair. Vou esvaziar o avião…” Ou para contar, rindo: “Se vierem correndo, vocês pegam uma noiva a caráter para se casar em Santiago!” Mais? “Está chegando um jato particular de Atenas rumo a Buenos Aires; dizem que é do Onassis, e ele está com a Jaqueline, a filha e um bando de celebridades.”.

Nem tudo foi céu de brigadeiro. Ás vezes, vinham gorilas de Brasília. Marcelo Caetano e Américo Thomás desembarcaram no exílio brasileiro, expulsos de Portugal pela Revolução dos Cravos. A segurança da nossa ditadura não permitiu fotografar a chegada dos dois ex-ditadores, filhotes de Salazar. Hélio Scarabotolo, diplomata (!) brasileiro, chefia o esquema de massacre da imprensa. Apelamos: “Pelo menos um registro para a história, ministro!”. Ele brada: “A história que vá tomar no…” (Perdão, mas foi ele quem falou.).

Pregado no poste: “Melhor um policial federal honesto do que um embaixador de baixaria”

 

 

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