Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2009Crônicas

Em forma, coluna por 4!

Agora que nós e ele já temos quase a mesma idade, podemos contar certas passagens que o tempo escondeu. Como hoje é aniversário desse mestre inigualável, confesso que ele foi a única pessoa do mundo que me pôs a correr. Nem as baratas, que me paralisam, nem vaca brava, que de mim tem pena. Como é dia de festa, não custa contar observações dos moleques, seus eternos alunos do ‘Culto à Ciência’, que a ele devemos tanto.

O professor de Ginástica Pedro Stucchi Sobrinho raramente era visto na solene Sala dos Professores, ao lado da Diretoria, posto que ficava o dia todo de calção, camiseta e apito, transitando pelo caminho que ligava o “Ginásio de Esportes Alberto Professor Krum”, como invertia o inspetor de alunos Cardamone, ao campo de futebol, hoje ocupado pelo auditório “Doutor Telêmaco Paioli Melges”.

Mas um dia, trajando o agasalho azul e branco de calças compridas e aquele blusão com o escudo inconfundível da nossa escola, lá estava ele, sentado bem de frente para a saudosa mestra de Português e de Grego (sim, ela também nos dava aula de Grego), Maria de Lourdes Ramos. Seo Stucchi tem um “tique”, ou melhor, dois. Um deles é erguer e baixar a cabeça, como a concordar com tudo o que o interlocutor diz. Foi por causa desse tique que, numa tarde de tempestade terrível, pedimos para jogar futebol no campo e todos pensamos que ele havia deixado. Saímos correndo a comemorar, debaixo daquele aguaceiro cujo estrondo não nos deixava ouvir nada. E ele berrava no galpão para que a gente voltasse. Na cantina, seo Alo morria de rir, aquele sorriso maroto, com a filha Janetinha no colo.

O outro tique era piscar e olhar de lado, como se convidasse, disfarçadamente, o interlocutor a sair com ele. A cena era incrível. A mestra inquieta e ele nem aí, sem perceber nada, até a hora em que viu a porta da Sala dos Professores lotada de alunos se divertindo.

Muitos de nós íamos à aula de Ginástica (Educação Física era com o professor de Física, naturalmente, Moacyr Santos Campos) com o calção sob as calças e já de camiseta e tênis (Sete Vidas e Conga nem pensar). Muito mais fácil. Um dia, subi correndo a arquibancada do ginásio de esportes, tirei a calça e quando vi, estava só de cueca. E agora!? Fiz cara de dor, olhos quase fechados, e após a chamada, aproximei-me dele e disse que estava gripado e com febre. Fui dispensado. Saí de forma mancando. E, tremendo de medo, ouvi: “Muito bem seo Castro, diz que está com febre e sai mancando?”

Pregado no poste: “Por favor, dona Dulce, deixe ele com a gente mais um pouquinho?”

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