Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2008Crônicas

Ele soube escolher

Para se orgulhar das belezas dos tempos em que o Brasil era um belo país, basta abrir as páginas de “O viajante Hércules Florence – águas, Guanás e guaranás”, da ‘garimpeira’ e ex-aluna do “Culto à Ciência” Dayz Peixoto Fonseca, Editora Pontes. Não há um rio poluído, só um testemunho pintado da velha praga, a mata queimada pelos criadores de gado para fazer pasto. Mas não há florestas desmatadas nenhuma cachoeira ou salto engolido por represas artificiais, nem represas, aliás.

Em vez de iates, canoas, muitas, de chimbó e de corredeira. No lugar de mansões ou prédios, ranchos de tropeiros, ocas, ocaras, cabanas. Cidades? Camping? Jamais: aldeias, malocas, acampamentos… Pombos, pardais ou ratos de asa? Aracuãs (inseparáveis), urubutingas, a enorme anhumapoca, macacos coatás, lagartas. De repente, a imagem do Rio Amazonas tira o fôlego! Estamos perto de Monte Alegre, como era em 1835. Esplendorosa como nunca mais!

Pelo trajeto, ele retrata índios de todas as tribos, nenhuma “metaleira” — protetora de minérios e suas jazidas para gringos. Um a um aparecem os Guanás, Guatós, Caiapós, Bororos, Mundurucus, Apiacás, Chamacocos. Brasileiros de outros tempos, dos quais, prova Hércules Florence, herdamos um paraíso, onde hoje, qualquer um deles morreria sufocado pelo ar ou envenenado pela água em um só dia de visita.

Não sei se na partida ou na chegada, Hércules retrata imensos pinheirais em… Jundiaí!!!

Mas se vê um mundo de gente deslumbrada com tão linda exibição de natureza exposta por Deus – este Brasil.

São as imagens indescritíveis (Gente! Cada paisagem parece uma fotografia!) e uma narrativa singela do franco-campineiro que partiu para retratar e documentar a missão do barão de Langsdorff, diplomata russo, pelo interior do Brasil, de Porto Feliz, aqui perto, até as entranhas do Pará, de 1826 a 1829. Eram autênticos 70 bandeirantes do século 19.

Quase todos voltaram loucos e febris. Até Hércules, que partiu apaixonado por Maria Angélica, filha de Álvares Machado (que o abrigou durante os preparativos em Porto Feliz) e voltou louco de amor por ela. Tanto que se casaram em 1830, escolheram morar em Campinas e tiveram 12 filhos. Depois, viúvo, ainda se casou com Carolina Krug e teve mais sete. E olhe que só depois dessa aventura, ele começou a realizar suas invenções – entre elas, a fotografia.

Pregado no poste: “Campinas faz um bem danado!”

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