Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Ela vem chegando…

Relíquias de uma superstar da igreja Católica desembarcam hoje em Campinas. Não é atriz de teatro, cinema nem de televisão. Também não é top model, roqueira, nunca foi miss, muito menos apresentadora de programas infantis. Jamais namorou alguém famoso — atleta, piloto de Fórmula Um, jogador de futebol, astro da música pop ou qualquer dos “magics” da NBA. Não vem para lançar nenhum CD, mas na tourné, que começa hoje, promete dar um show para sua legião de fãs – o fantástico show da fé.

Essa estrela francesa tem luz própria. A vida é seu palco iluminado; a casa de todos, seu cenário e a Humanidade é, a um tempo, protagonista e sua coadjuvante no maior espetáculo da natureza do homem: o amor. Muita gente no mundo conhece francesas famosas: Brigitte Bardot, Anouk Aimée, Edith Piaf, Simone Signoret, Simone de Bouvoir, Catherine Deneuve, Françoise Dorleac… Mas muito mais gente prefere Marie Françoise Thérèse Martin, simplesmente Thérèse Martin para os mais ardororos, ou “a garota de Lisieux”. Ela não tem apenas fãs, tem devotos.

No Brasil, essa Teresa é adorada, venerada, celebrada. Aqui, como não poderia deixar de ser, virou Teresinha, da alma dos mais escondidos rincões à mensagem imortal do Chacrinha. É a nossa “Teresinha de Jesus”, cantada pelas crianças, acudida por três cavaleiros de chapéu na mão: seu pai, seu irmão, até por aquele a quem deu a mão. Nesta terra da Santa Cruz, depois de Maria e Aparecida, que, afinal, são a mesma mãe de Jesus, ela deve emprestar seu nome à maioria das mulheres. Certamente, homenagem dos pais à filha que sonham ver à imagem e perfeição da homenageada. Quem não conhece uma Teresinha? Quantos têm uma na família? Eu, por exemplo, me casei com uma e nem “sou Flamengo”…

O cientista Evaristo Miranda, pai do Daniel, jura que ela seria admirada como feminista nos dias de hoje. E olha, que essa nossa Teresinha viveu enclausurada num carmelo! Imagine se… Como muitos poetas do fim do século passado, morreu jovem (24 anos!), tuberculosa, a 30 de setembro de 1897, e, claro, deixou um bestseller: “A história de uma alma”, traduzido para 58 idiomas. Nem Paulo Coelho… “Leitura imperdível para quem quer viver de bem com a vida.”, testemunha Evaristo.

Suas últimas palavras resumem o sentido e a natureza da fé: “Morro para entrar na vida”. Falou, Teresinha! Conta a história oficial que a leitura de seu livro, em apenas 25 anos, proporcionou mais de quatro mil prodígios atribuídos a Teresinha de Jesus. O papa Pio XI não teve outro jeito, se não canonizá-la. Uma santa de 24 anos. A primeira a ter o rosto perpetuado em fotografias, para provar que além das superstars, santas também podem posar para fotógrafos, fazer sucesso e revelar que são de carne e osso, sem exibir ataques de estrelismo. Olhe para um retrato da Teresinha e ela parece dizer, com toda a simplicidade: “Sou gente como você”. Nem precisa pedir autógrafo: ela vai cravar o nome no seu coração.

Neste Brasil, ela foi arrebatada e arrebatadora. Veja só: no mesmo ano em que virou santa, o pessoal do interior de São Paulo não esperou um segundo. Ergueram duas igrejas e fizeram de Teresinha a padroeira, em Cerqueira César e Glicério. Não pararam mais: em 72 anos, seus fãs ergueram 123 templos dedicados a ela. Mais de uma igreja por ano. Depois de Nossa Senhora, é o maior cartaz paroquial do País. Nem Roberto Carlos…

Pregado no poste: “Hoje, Santa Teresinha na Catedral. Não perca!”

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