Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

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Eis o Brasil!

A Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso do Sul pediu a 12 mil alunos de quinta série, de escolas públicas, que fizessem uma redação. Tema: “Minha vida”. São meninas e meninos de onze, doze anos. Segue um resumo da tragédia:

“Eu nasci em Maracaju. Minha vida é um jogo de futebol, onde a bola nem entra nem fica. Até hoje eu vivo muito bem, apesar de não ter o amor de um pai e minha mãe. Minha mãe me abandonou. Meu pai casou com minha prima, mas ela nem olha para mim. Quando eu abraço ele, quando ele chega do trabalho, ela diz que ele não é meu pai e que ele só abraça eu e não abraça ela. Minha mãe foi embora para Rondonópolis e nunca mais veio para me visitar. Meu Deus, espero que um dia eu possa conhecer minha mãe e abraçá-la”. Menina, de Maracaju.

“Quando eu nasci, minha mãe me deu para outra mulher que me queimava de cigarro. O meu pai me abandonou antes de eu nascer. Os filhos dessa mulher me batiam de vara de espinho. Encontrei alguém para me adotar. Mas os meus pais adotivos se separam e minha mãe começou a me bater de cinta, de pau, de vara e a me deixar de castigo…” Menina, de Sete Quedas.

“O meu pai era policial, mas ele matava os outros por dinheiro. Até que um dia, uma pessoa resolveu se vingar. Armaram uma tocaia em um mandiocal, no escuro, esperando que ele saísse. Quando ele saiu, deram três tiros e o mataram. Eu gostava muito dele, agora eu só tenho minha mãe e meus irmãos… Mas eu estou feliz, apesar de tudo.” Menino, de Bela Vista.

“Eu nasci em Ivinhema. Aos sete anos de idade eu entrei na escola. Quando eu tinha nove anos, meus tiveram que mudar para uma fazenda. Naquela época, eu perdi o ano e fiquei sem estudar. Depois, eu mudei para Campo Grande. Eu pegava seis ônibus para ir e voltar da escola, porque na escola perto de onde eu morava, não tinha vaga. Como estava cansado, mudei para Invinhema, de novo. Repeti a quinta série. Ainda querem que eu passe de ano, se não, eu vou apanhar da minha madrinha.”  Menino, de Ivinhema.

Entre histórias de muita violência, omissão, muito ódio e de desamor dos adultos para com as crianças, aqui e ali, aparece uma de esperança. Esperança como esta que, certamente, a própria criança que a escreveu sabe que não viverá:

“No ano de 2053, aconteceu uma virada. O mundo melhorou: não existia gente pobre, ninguém tinha dívida, ninguém ficou sem emprego, não aconteciam tiroteios da polícia com marginais, não havia matança, ninguém ficava doente. Era um mundo completamente diferente do século passado, em que havia fome, matança, pobreza, desemprego e muitas pessoas doentes por causa da poluição.”  Menino, de Dourados.

Duro, mesmo, é ler este relato, de um garoto de 14 anos: “Meu pai era muito rude comigo. Queria que eu soubesse de tudo… parecia que ele me odiava. Aos seis anos, fui colocado numa escola particular. Meu pai paga para me baterem…”

PS: Beto Zini é um presidente muito generoso. A cada gol que o time dele faz, o adversário pode fazer quatro…

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