Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

E se não fosse a cana?

Ribeirão Preto, tarde de quarta feira: bate-papo entre um investidor japonês e um empresário produtor de açúcar e álcool. (Antes de começar a ouvir a conversa, imagine a cara do japonês, a cada gargalhada, igual à do brasileiro, quando ri de uma piada de português. Bem debochada, sabe como é?)

— Vocês têm trens para levar o açúcar até o porto?

— Temos, mas não usamos (de cabeça baixa).

— Ah! Ah! Ah!

— Mas logo, as ferrovias voltarão!

— Em quanto tempo?

— Ah, em dez anos!

— Ah! Ah! Ah!

— No Japão, levar de trem é muito, mas muito mais barato!

— Deve ser, mesmo!

— Quanto é mais barato de trem no Brasil?

— Nem sei. Faz tanto tempo que não temos trem…

— Nem sabe!? Ah! Ah! Ah!

(Quanto dinheiro perdemos! Quantos investimentos!)

— Sabe, transportar não é nossa função. Nós temos de colocar o açúcar e o álcool na porta da usina. O comprador tem de vir até aqui… Mas nós é que garantimos a qualidade dos produtos.

— Ah é? Oh! Ah! Ah! Ah!

— Então os preços devem mudar muito de um lugar para outro?

— Não. São muito parecidos, do Rio Grande do Sul até o Amazonas. No Nordeste… Antes de o governo sair do negócio, também era assim e todos se acostumaram.

— Mas como o governo se intrometia no negócio?

— Por decreto!

— Ah! Ah! Ah! Oh…

— O governo dizia quanto cada usina podia moer de cana e fazer de açúcar e álcool. Era tudo amarrado. Quando subia a gasolina, subiam o açúcar e o álcool.

— Não entendo! Ah! Ah! Ah!

— Agora, o álcool é produto de mercado, tem preço sujeito à oferta e à procura. A gasolina tem tarifa.

— Produto de mercado que custa quase igual no país inteiro?

— É…

— Ah! Ah! Ah!

— Vocês têm algum acordo para garantir a lucratividade do açúcar e do álcool? Se o preço do açúcar sobe muito no exterior, vocês não param de fazer álcool para fazer mais açúcar?

— Não temos acordo nem controle, mas sempre respeitamos nossos contratos. Os preços são fixados com o cliente durante o ano.

— Ah! Ah! Ah!

— Em sete anos, o preço do álcool passou de R$ 0,14 para R$ 1,05. Se eu tivesse feito só açúcar, ganharia a mesma coisa…

— Ah! Ah! Ah!

— Não tem perigo de a Petrobrás ‘matar’ vocês?

— Ela tentou uma vez, mas a cana mostrou que é mais forte do que ela e nós juntos.

E o negócio foi fechado!

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