Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

E se fosse “Dilma Negra”?

Pela programação, melhorou, mas já foi mais uma feira de “equipamentos urbanos” do que “Congresso Estadual de Municípios”, esse que começou ontem em Serra Negra.

Quando Campinas fez 200 anos, o encontro deu-se aqui. O jardim do Palácio dos Jequitibás só faltou receber barraquinhas de maçã do amor e pipoca. Tudo o que servisse para uma prefeitura estava lá, à mostra:

Balanço, escorregador e gangorra para parque infantil; aqueles “cadernos de ocupação” e de caligrafia, lousas, carteiras bebedouros, latrinas de chão e cozinhas completas para os grupos escolares municipais “fulanos de tais”; tratores, manilhas e grades de bocas de lobo, para combate a enchentes; semáforos de três estágios; ônibus urbanos com e sem catraca; cartilhas para ensinar o povo a andar em prometidas escadas rolantes — eleitorais; coleções de uniformes escolares; modelos de bustos e estátuas para o ego de familiares de finados beneméritos; coretos com altofalantes de brinde; projetos de chafarizes e, claro!, de fontes luminosas, coloridas, o máximo. Num estande, um prefeito mostrava os pôsteres com essa ‘obra’ que ele inaugurou na cidade dele.

Se bem me lembro, havia até um grupo de lobistas oferecendo filial das Casas Pernambucanas: “Como, excelência!? Sua cidade ainda não tem Casas Pernambucanas? Então, não é um cidade completa!” Orgulhosa, uma cidade expôs um pôster (desculpe-me, mas não há sinônimo para pôster) com as obras já quase em andamento do seu primeiro arranha-céu, destacado na foto de uma maquete ao lado – tudo para fazer fusquinha para uma vizinha, que ainda não tinha. Algo como campineiros convidarem piracicabanos para comer cachorro quente nas Lojas Americanas, mas piracicabanos responderem com moeda de verdadeiro valor, convidando campineiros para ver peças de teatro em Piracicaba. Até hoje os moradores da terra de Carlos Gomes têm de ir à terra do Cecílio Elias Neto para ver peças de teatro.

(Nota de esclarecimento: não foi nesse congresso de Campinas, mas nos Jogos Abertos do Interior, em Tupã, que o repórter Antônio Carlos de Júlio disse a colegas de outras plagas, que morava a seis horas de Paris – era só pegar o Concorde em Viracopos. Hoje, o campineiro leva seis horas só para chegar a… Viracopos)

Na hora de defender a terra natal, todos debochavam do provincianismo de prefeitos que inauguravam fontes luminosas. Um mês e meio depois de terminado o congresso, Campinas inaugurou a sua, para celebrar os 200 anos, diante do general Geisel e tudo. (A gente não perde a pose: aqui, quem inaugura fonte luminosa é o presidente da República; mas a que servia de bebedouro para cavalos no Largo do Mercado não foi o general Figueiredo, egresso da arma da Cavalaria).

Pelo menos uma vez aquele histórico congresso foi notícia no “Estadão”: descobrimos que no escurinho do Salão Vermelho do Palácio dos Jequitibás, a então prefeita de Palestina começou a namorar seu colega de Americana – sem direito a uma maçã do amor.

Pregado no poste: “A Dilma não vai só porque a cidade se chama ‘Serra’ Negra?”

 

 

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