Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2003Crônicas

‘E quem não quiser crer…’

Já brilha nas livrarias da cidade, mas deveria estar nas joalherias. A preciosidade se chama “Natureza, conservação e cultura – Ensaio sobre a relação do homem com a natureza no Brasil”, da lavra do cientista Evaristo Miranda, pai do Daniel, fotografada pelo Adriano Gambarini.  Tem hora que a leitura arrepia de emoção. Bem que a médica-veterinária (belo nome!) Rose Lílian Gasaprini Morato, da Pró-Carnívoros, avisa na primeira linha do prefácio: “Este livro surgiu de um sonho”.

Sonho que começa a descrever como era nossa terra bem antes de Cabral e nos leva a exclamações e surpresas recíprocas como as dos índios e Caminha. Espanto dos índios diante de uma galinha; espanto dos portugueses diante da ausência de bois, carneiros e vestimentas das gentes em nossas paisagens – os únicos animais domesticados eram a capivara e o quati.  Cada linha é uma isca – se começar, vai ler e se extasiar sem parar nem sair do lugar. É para se esquecer do passado, presente e futuro e mergulhar no sempre.

Só para dar água na boca, veja este relato do jesuíta Rui Pereira, em 1560:

“Se houvesse paraíso na terra, eu diria que agora o havia no Brasil.,, saúde não há mais no mundo, ares frescos, terra alegre, não se viu outra; os movimentos eu os tenho por melhores, ao menos para mim, que os de lá e de verdade que nenhuma lembrança tenho deles para os desejar. Se tem em Portugal, cá há muitas e mui baratas – se tem carneiros, cá há tantos animais que caçam nos matos, e de tão boa carne, que me rio muito de Portugal em essa parte. Se tem vinho, há tantas águas eu a olhos vistos me acho melhor com elas que com os vinhos de lá; se tem pão, cá o tive eu por vezes e fresco, e comia antes do mantimento da terra que dele, e está claro ser mais sã a farinha da terra que o pão de lá: pois as frutas, coma quem quiser as lá, das quais cá temos muitas, que eu com as de cá me quero. E além disto há cá cousas em tanta abundância, que, além de se darem todo o ano, dão-se tão facilmente que sem as plantarem, não há pobre que não seja farto com mui pouco trabalho …finalmente, quanto ao de dentro e de fora não se pode viver senão no Brasil quem quiser viver no Paraíso terreal; ao menos eu sou desta opinião. E quem não quiser crer, venha experimentar.”

Como diz o Evaristo, “os portugueses amavam o Brasil”.

Pregado no poste: “A senhora ama Campinas, dona Izalene? Jura!?”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *