Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2010Crônicas

E o Citroen virou berço

O médico Gustavo Murgel (mais campineiro impossível) descobriu uma preciosidade: a coleção dos carros usados pelo personagem de histórias em quadrinhos e desenhos animados Tin Tin e seu companheiro Milou, “fox-terrier” de rara brancura. Ao longo das oito décadas de existência desse detetive infanto-juvenil, os veículos retratam o que havia de melhor na frota da época em que se passam as aventuras. Junho de 1930: Tin Tin e Milou saem da alma de D’Hergé (Georges Remi) rumo à sua primeira aventura, no Congo Belga – como são belgas o criador e suas criaturas. (Como é belga outro detetive notável, Monsieur Hercule Poirot, criação da ‘Dama’ britânica Agatha Christie.).

Mandei a galeria para a bibliotecária Meyre ‘la Fênix’ Raquel Tosi e ela, empolgada, viu que sua família teve dois dos carros do Tin Tin: um Citroen e um Panhard. Como diria a revista “Veja”, seu relato:

“Nasci num Citroen! Foi na porta da Maternidade de Campinas. Sou prematura, mas acho que dei certo, apesar das trapalhadas, e sou ‘louca’ por carros. Lembro-me de que quando era menina, meu pai teve um Panhard 1957, que fervia muito na Serra de Santos. Aliás, todos os nossos carros (enormes!) ferviam. Viajávamos com garrafões d’água.
Carros velhos, claro, mas tirando as ‘fervuras’, rodavam bem e eram muito confortáveis. Nos anos 70s, minha mãe passou a dirigir um Simca vermelho. Ia da Francisco Glicério até a Avenida Saudade em segunda. Nunca o suficiente para engatar a terceira marcha.

Eu já morava em apartamento e de lá de cima via o Simca puxando uma fila de carros com motoristas buzinando… E ela, nem aí… Quando arrumei meu primeiro emprego, em 67, 68, comprei um DKW, que perdi porque pegou fogo na Rua Delfino Cintra. Fazia o maior sucesso: moça, loira, bonita num carrinho velho! Também tive um Gordini, que perdi numa enchente na Rua Barata Ribeiro (até hoje o lugar é perigoso) — um Fusca, uma Brasília (ótima), um Gol a ar (péssimo) e, adivinha? Um Lada!

Diziam-me que Lada é carro para toda a vida, porque quem tem não consegue passá-lo para frente. Fiquei quatro anos com ele. Nunca deu oficina, mas um dia simplesmente parou! Morreu, assim, sem avisar nem dar sinal de doença. Nessa época, eram minhas filhas que saíam com o Lada — também faziam sucesso: lindas, loiras, num carrinho esquisito!

Hoje, detesto dirigir. Trânsito e motoristas ficaram insuportáveis.  E ainda tenho um sonho secreto: atropelar os amarelinhos. Todos! Melhor não dirigir!”

Amanhã, quase toda a galeria do Tin Tin passará por aqui, com os campineiros que viajaram a bordo daquelas relíquias e nem sabiam. Combinado?

Pregado no poste: “Queria saber se a Dolly é candidata, mas este poste não aceita campanha política”

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