Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2004Crônicas

E nós com o peixe?

Você conhece o Marcelo? E a Laura, você conhece? Não?! Pois é. O Marcelo engravidou a Laura. Já pensou? Antigamente, quando uma gravidez dessa acontecia fora do casamento, se dizia: “Agora, eles vão se casar na delegacia”. Isso, se o rapaz não quisesse assumir a criança. Não havia teste de paternidade, porque ninguém sabia o que havia dentro do DNA de cada um. Pode ser que haja muito pai pensando que o filho é dele, porque não havia como provar. Com medo do delegado, o jeito era se casar. Li que o Marcelo engravidou a Laura na capa de uma revista. Como também não conheço os dois, pensei que essa gravidez fosse mudar o destino do mundo, fazer o Clinton desistir do Iraque ou até acordar o Chico Amaral.

Num desses jornais sangrentos, a manchete diz: “Debaixo da cama, o rival ouviu: sai daí canalha”. Ao ler a notícia, não vi nada que mudasse o curso da história. Mas o bombardeio de informações, estampadas como algo vital para a humanidade, é violento. Se não tomarmos cuidado, esses tiros nos acertam para sempre.

Disparam como uma saraivada: “Estress obriga Fátima Bernardes a se internar num Spa”; “Xuxa leva susto em Miami, antes de entrevistar  Madonna” — pensei: “Será que a Madonna… Não, a Xuxa tem juízo”. Tem, né? Outra chamada na capa de uma revista, que parecia anunciar a salvação da lavoura e o fim do desemprego no mundo: “Clodovil volta para a Globo como ator da novela das oito”.

Nem desconfio de quem seja o Rui, muito menos o Olavinho, mas saiu que o Olavinho vai colocar o Rui na cadeia. Será que finalmente algum figurão vai para a cadeia no Brasil? Lembrei-me de uma frase inscrita numa placa de bronze, na sala do diretor da Casa de Detenção de São Paulo: “É mais fácil o camelo passar pelo buraco da agulha do que um rico passar pela porta da Casa de Detenção” — foi escrita por um preso pobre, naturalmente, já que preso rico não existe.

“Chico sofre atentado”. Como não se tratava do Chico Buarque nem do Chico Amaral, não dei bola. Outra: “Fã do U2 diz como conseguiu agarrar Bono Vox”. Mas a notícia não deve contar tudo o que essa fã fez com o citado. Será que daqui a nove meses, a banda não terá de mudar o nome para “U3”? Mais: “Fábio Jr, solteiro e feliz: Se for preciso, caso 50 vezes”. Qual a diferença entre quem precisa se casar 50 vezes e não se casar nenhuma? Em compensação, o Van Damme confessa: “Fiz muitas coisas erradas, porque queria fugir do meu quarto casamento”. Será que ele foi “pros quintos”? Chiquinho Scarpa ficou noivo da Carola Oliveira, sabia?

Outra revista avisa que a Xuxa tirou férias em Nova York e fez compras para o enxoval do bebê. Você, que está grávida, faça o mesmo. Só que não será notícia de capa de revista, nem que compre o enxoval para o seu bebê numa boutique do DIC 5.

Se nada disso tivesse acontecido, nossa vida seguiria o mesmo curso. Diante da inutilidade dessas informações, qualquer um reagiria: “E eu com o peixe?” Nos anos 50s, o colunista Ibrahim Sued cunhou a expressão “E eu com a Light?” Mas, para justificar a necessidade dessas aparentes inutilidades, o mesmo Ibrahim dizia: “A vida sem o supérfluo não vale nada”.

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