Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2007Crônicas

E no pódio do Céu…

Muito antes de Lucille Ball criar seu “I Love Lucy”, para ensinar donas de casa americanas a usar eletrodomésticos. Muito antes de Manoel da Nóbrega e Sílvio Santos inventarem o eterno carnê do Baú. Muito antes de Johnny Weismüller nadar em ouro na Olimpíada de Los Angeles, em 1932, e virar o primeiro Tarzan das telas. Muito antes de Baby Barione transformar a praça da matriz de Monte Alto em quadra de basquete, nos primeiros Jogos Abertos do Interior. Muito antes de o corredor negro Jessie Owens debochar do racismo de Hitler na Olimpíada de Berlim, em 1936. Muito antes de Maria Esther Bueno abalar o Império Britânico e assombrar a Rainha Elizabeth, arrebatando a coroa do tênis de Wimbledon.

Quando tudo isso aconteceu, Manuel Henriques, o Mabelis, um dos fundadores do Clube Campineiro de Regatas e Natação, já percorrera esses caminhos como pioneiro do marketing e do esporte em Campinas.

Imagine: naqueles tempos, anos 20, 30, quando tudo começava, Mabelis pulava da cama às quatro da manhã, para treinar. Agora, veja o que era amor ao esporte e a Campinas. Mabelis pegava aquele bondão verde rumo a Sousas, com holofote de alumiar até o luar que vinha da Serra das Cabras. Quando a viagem passava pela ponte do Atibaia, Mabelis pulava na água e, contra a correnteza, nadava até chegar aonde ele e seus jovens amigos sonhavam a sede do clube no arraial.

Todos tinham um único patrocinador: a alma campineira.

Pegava o mesmo bondão na volta e ia trabalhar na Companhia Campineira de Tração Luz e Força, dona do bondão, dos bondes e da energia de Campinas. Foi lá que ele, fiel e criativo funcionário da contabilidade, criou um jeito de incentivar os campineiros a consumir a energia produzida pela empresa onde trabalhava. A conta de luz ganhou um canhoto, que servia de carnê para comprar a prazo os primeiros liquidificadores, lava-roupas, batedeiras, aspiradores de pó, enceradeiras e torradeiras que chegavam às lojas da cidade. O número do mesmo carnê também ia para o sorteio daquelas cobiçadas maravilhas.

Saudade da Eletrorádio…

Semana que vem, vamos falar dos cúmplices de Mabelis, protagonistas de uma saga que a cidade perdeu, porque naquele tempo, quando eles queriam, não pediam. Faziam.

Pregado no poste: “Quando Deus chamou, Mabelis cruzou a linha de chegada e São Pedro nem viu”

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