Moacyr Castro

Crônicas, reportagens e entrevistas.

2005Crônicas

E fraternos somos

Devemos ser fraternos com vândalos que atacam o Museu da Cidade, a Estação Cultura, o Teatro Castro Mendes e o Palácio dos Azulejos? São fraternos os que abrem bingos perto de escolas? Qual é a fraternidade de quem deixa morrer árvores no Bosque, um jequitibá na frente da Prefeitura ou abate um alecrim no Largo da Catedral? É fraterna a mãe (mãe!?) que joga o filho morto (morto!?) num córrego do Jardim Yeda? São fraternos superservidores que arrancam R$ 1,2 milhão por mês do povo e se escondem em nome da lei? Essa lei é fraterna? É fraterno quem deixa faltar merenda escolar e médicos e remédios em postos de saúde?

Ano que vem, a Campanha da Fraternidade não pode contemplar esses fraternos. Ela chamará à ordem o povo para se retratar diante de seus deficientes – físicos e mentais. Mas que não esperem fraternidade os deficientes morais, como bem lembra a repórter Patrícia Azevedo. Ou como alerta o cientista Evaristo Miranda, ser e humano como poucos: “Não devemos dizer aos deficientes ‘levantem-se e venham para nosso meio’, mas “levantemo-nos e vamos para o meio deles’!”

Estudando o manual de um jesuíta de 1685, ele ensina que tudo começa na arte de criar bem os filhos na infância, porque o amor materno é um  instinto que exige aprendizado, sim. A mãe tem de ser educada a educar, para não propagar a violência. Vem do tempo da chegada das Santas Casas ao Brasil e sua incrível rede de solidariedade dos jesuítas para receber na roda crianças enjeitadas pelo abandono ou porque frutos do concubinato. Eles não concebiam a lógica do abandono como causa da lógica da marginalidade. Educavam as crianças até a hora de ganharem abrigo nos colégios jesuítas com apoio dos municípios, principalmente das Câmaras, que prestavam até ajuda domiciliar.

Hoje, a lógica perversa faz até o IPTU domiciliar assistir as Câmaras…

Vamos mergulhar nessa Campanha da Fraternidade, que partirá em busca dos deficientes físicos e mentais, antes que se tornem presas da sanha dos deficientes morais. Com esses não devemos nem podemos ser fraternos.

Pregado no poste: “Leitor é inteligente, mas eleitor…”

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